Entrevista c/ Negroponte e Castells
O Estado de S.Paulo. Nesse post, Negroponte e Castells.
Disciplina "Filosofia e Cibercultura" do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Facom/UFBA Prof. Dr. André Lemos 2005.1 (de março a julho)
Para o desenvolvimento desta trabalho, buscaremos nos aprofundar na noção de socialidade apresentada por Maffesoli (autor pouco discutido na disciplina) a partir da leitura das suas principais obras. Além disso, faremos uma revisão bibliográfica dos autores discutidos na disciplina Filosofia da Técnica e Cibercultura para trazer a tona a discussão sobre a produção técnica moderna. O artigo "Ciber-Socialidade: Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea" de Lemos também será de fundamental importância para o entendimento da socialidade no contexto das novas tecnologias. Para extrair os dados empíricos para o desenvolvimento da pesquisa, realizaremos a seguintes atividades:
Um rapaz em queda livre habita soberano os céus luminosos da cidade do sol...braços abertos e um sorriso adolescente...velocidade, emoção...pura adrenalina...Patético e virtual – típico personagem urbano. O letreiro provoca: "VeloX Você Voa"...palavras que completam o cenário cosmopolita no imenso outdoor, localizado no alto da chic avenida. Horizontes que se alargam, em tempos de banda larga. Não dá mais pra conectar em linha discada...É como viajar de carroça no tempo do “Trem Bala”. Velocidade é preciso...voar também é...Um mundo tecnocientífico se impõe. Tecnologia das fibras ópticas, dos feixes de luz, dos satélites, dos trangênicos e dos embriões humanos cobaias. Projetos de chips quânticos, quantas que transportam idéias? A quantas vão? Quanta inovação! Pretende-se experimentar microprocessadores de DNA, de plástico, de luz! Ousamos incorporar nas máquinas a inteligência da vida inteligente? Os fios das redes, as redes sem fio. Um mundo conectado de fio a pavio. Tecnologia dos fios metálicos que também precisam, às vezes perfurar a carne viva do pobre homem, que flagro sem querer, através da janela do micro-ônibus, no qual viajo pelas ruas da cidade. Um torturante cilindro de fios metálicos que cercam sua ante-perna. Frios e finos fios que consertam seus frágeis ossos da perna. Tíbia e perôneo fraturados de uma só vez, talvez numa dessas cenas dramáticas de um filme da vida real. Vejo ele se arrastar sofregamente pelo elegante passeio da avenida na cidade. Antecede a cena de vôo do ícaro cibernético escancarada no outdoor da avenida. O homem rastejante usa os braços para se arrastar apoiado num rudimentar assento de madeira, forrado com plástico sujo. Para...cansa...olha ofuscado e impotente o trânsito veloz...carros reluzentes...para...reflete...Continua seu rastejar - resignado? Está imundo e abandonado no mundo, por um mundo igualmente imundo? No outdoor o feliz rapaz da banda larga sorri largo, continua voando, compondo a cena...parceiros de cena...tragados pela máquina termodinâmica que passa indiferente e me transporta de um ponto a outro da cidade, e também inevitavelmente entre mundos caleidoscópicos que visito, mixando cenas avulsas, junto a outros passageiros possivelmente também indiferentes. Podemos escolher as cenas do vídeo exibido, logo à frente, sentados confortavelmente em poltronas velozes no ambiente climatizado do transporte. Ou simplesmente olhar à distância, pelas janelas o espetáculo da vida real lá fora. Difícil distinguir entre simulacros e realidade, por aqui. A roda, conquista tecnológica histórica da saga milenar do homem sobre a terra é presença hegemônica no mundo das máquinas. Como concebê-la ausente em algumas cenas reais? Como conceber que alguém, em pleno alvorecer do século XXI prescinda da roda e rasteje como um verme sujo pelas ruas da cidade. Imobilizado pelas máquinas que o compõem? Máquinas abstratas: por onde andam as abstrações do homem contemporâneo? Máquinas desejantes, por quais caminhos caminham os desejos do homem tecnológico? Onde habitam os direitos universais do homem nesses universos humanos/desumanos? Brincamos velozmente no civilizado ciberespaço e fabricamos a barbárie contemporânea no espaço real, indiferentes e alienados? A janela do "trem urbano" continua fabricando as cenas velozes da cidade real. Engolida pela velocidade a cidade se esvai em frames fugazes. Aproveito-os compondo e tecendo solitariamente um roteiro que converto em redes de palavras instantâneas, que emergem quase que autônomas dos dedos que teclam velozes e as fazem ganhar vida eletrônica, desfilando enfileiradas na tela luminosa a minha frente - a frente de todos. Posto minhas viagens urbanas num blog, em palavras que se desmaterializam e viajam velozes pelas teias das redes do fantasmagórico e consensual ciberespaço. Bebo um pouco de café amargo, respondo algumas mensagens no e-mail, faço upload de um filme e assisto confortavelmente o drama de personagens e cenários reais, apenas no momento em que os vejo na tela. O drama da cidade real fica pra trás? Cenas reais/virtuais se alternam nas múltiplas telas que nos constituem? Parece que as coisas vão se esvaindo velozmente pela cidade...Até onde conseguiremos voar com as nossas paradoxais asas civilizadas? Até quando rastejaremos vergonhosamente como ridículos vermes urbanos tecnocientíficos? E o sol da cidade do sol observa indiferente a vida que acontece...cintila nos satélites...nas placas de energia solar...castiga a pele do velho homem...derreterá algum dia nossas pretensas asas velozes?
Que conceito poderia contemplar à altura a complexidade e diversidade funcional dos computadores digitais interconectados em rede? Qual formulação de termo para tal objetivo poderia alcançar dimensões culturais e epistemológicas, que possam seguir muito além das abordagens reducionistas que os colocam em lugares de coisas-objetos neutros, dominados totalmente pelo homem racional que usam/abusam do jeito que quiserem, assepticamente? Tenho lido algo a respeito, conversado com alguns colegas, e especialmente ao interagir com André Lemos sobre estas questões, adoto a formulação que vem construindo conosco nas aulas: computadores são Metamáquinas. Penso que seria pertinente e talvez interessante se pudéssemos desbravar essa frente do pensar a técnica contemporânea, por aqui. Vamos lá então:
Em muitos textos e falas identifico com freqüência o termo ferramentas referindo-se aos computadores digitais. Gostaria de discutir esta denominação, numa perspectiva de investigação das possíveis concepções subjacentes ao termo utilizado. Ferramentas de acordo com o Simondon referem-se a artefatos que o homem usa para facilitar tarefas, no sentido de modificação, interferência. Logo atribuem um papel ativo ao homem, nesses processos. Já o termo instrumento, ainda em Simondon, refere-se a equipamentos destinados a leituras do mundo, tendo o homem um papel passivo, uma vez que o instrumento é quem interage com a realidade e precisa apenas ser lido pelo homem. Em ambos, a relação do homem com a técnica assume um papel de dominação (exploratória do tipo: uso abusivo mesmo). Mas se concebemos que o homem, também pode estar sendo usado/abusado pela máquina? Influenciado e modificado pela técnica? Se numa mesma visada homem e máquina sejam flagrados constituídos e constituintes entre si? Mudaria alguma coisa? Implicaria em algo? Os computadores nessa abordagem poderiam ser percebidos apenas como meras ferramentas, ou como ferramentas e instrumentos, ao mesmo tempo? Essa percepção não será reducionista e antropocêntrica? Seria algo mais? Numa abordagem ontogenética da relação simbiótica homém-técnica encontrei em Simondon e diversos outros autores uma percepção diferente da apresentada e que talvez se aproxime melhor de uma conceituação para os computadores digitais. Assim, nessa perspectiva não haveria supremacia do homem sobre a técnica, nem tão pouco da técnica sobre o homem. Não seria esta uma mera ferramenta desacoplada do seu corpo, do seu ser, principalmente da sua história evolutiva de vida. Além disso, um computador em rede não trabalha sozinho, se articula a diversos outros computadores, mecanismos, pessoas, mensagens, motores de busca e dispositivos variados e comunicados entre si, numa vasta e dinâmica rede de símbolos e signos, que o amplificam de forma complexa e ao mesmo tempo está ali na frente do homem interfaceado pelas telas, teclados, mouses...embutidos em carros, naves e aeronaves, em eletrodomésticos...juntemos a isso as subjetividades envolvidas, misturemos tudo no caldeirão multifacetado do ciberespaço e veremos que estas máquinas são na verdade, algo como metamáquinas digitais, cognitivas, subjetivas, desejantes,desejadas, desejáveis, indesejáveis, interativas, rizomáticas e interconectadas. Um conjunto, um emaranhado. Tecnologias Intelectuais como pretende Levy, ou máquinas desejantes como falava o Guattari, ou até múltiplos atores humanos e técnicos, signos...querubins como propõe Serres...O fato é que ao se per(con)ceber a técnica, tecnologia, computadores, rede e ciberespaço por essa ótica, estaríamos navegando talvez em novos "platôs". Como seriam as implicações disto tudo nas relações do homem entre si, com as máquinas e com o mundo? Essas per(con)cepções inaugurariam novos desvelamentos da técnica, nos afastando do perigo extremo como sugeria Heidegger ? Inventaríamos ou inventariaríamos novas culturas/ciberculturas, devires, agenciamentos e relações societárias menos esquizofrênicas, num sentido anômalo ou mais esquizofrênicas, num sentido nômade Deleuziano? Nos deparamos talvez com possibilidades desconhecidas que, por ora denomino metaforicamente de chaves enigmáticas. Nos darão acessos a portas (lógicas ou ilógicas?) ainda inéditas?...Como nos alerta o André Lemos, nas aulas: ainda não sabemos...Eh isso...Vamos lá!
Agência Estado
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A pele criada pela Nasa tem mais de mil sensores infravermelhos que detectam um objeto e mandam a informação para o "cérebro" do robô. O "cérebro", então, codifica a informação e reage com movimentos em um milésimo de segundo. Segundo os técnicos da Nasa, os robôs do futuro deverão ter ainda mais sensores. Os módulos flexíveis de plástico que estão sendo usados para abrigar os sensores eletrônicos ainda precisam ser testados para ver se resistem às condições do espaço.
Reação a obstáculos
Com essa nova pele, os robôs em missões espaciais poderão reagir aos obstáculos que encontram pela frente sem depender da intervenção humana. "Os robôs se movimentam bem sozinhos, quando não têm nada em seu caminho", afirma Vladimir Lumelsky, o responsável pelo projeto. "Mas precisam saber reagir a situações inesperadas, e os robôs de hoje são incapazes de fazer alguma coisa desse tipo."
Lumelsky disse que muito tem sido feito para aumentar a capacidade de visão dos robôs, mas que o mais importante é melhorar o "tato" e a "sensibilidade" das máquinas. "Os humanos conseguem sobreviver sem a visão, mas não sem o tato. A pele é o nosso maior órgão, e ela nada mais é do que um sensor gigante."
(Extraído de http://br.news.yahoo.com/050516/25/u4rf.html em 16/05/2005)
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Sim. A ciência desconhece a origem de muitos acontecimentos, que só podem ser atribuídos aos milagres. |
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Talvez. Muitos acontecimentos classificados como milagres podem, futuramente, ser explicados pela ciência. |
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Não. A ciência explica absolutamente tudo. |
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Seres alados desocultam-se dos casulos e libertos abraçam efêmeros o caos espaço-temporal do cosmos...caosmose. A poesia da vida – physis. Metamorfose ambulante? Metamorphysis - uma metáfora para nos auxiliar na percepção ontológica e poética da técnica. Poética? Sim. Porque não, então? Heidegger já nos fazia recordar que a techné do gregos pertencia a produção, poiésis. Como ele mesmo costumava dizer: ”é algo poético”, assim como o é a physis. Brindou-nos Heidegger, ao falar da questão da técnica com uma bela poesia de Hölderlin: ”...poeticamente o homem habita esta terra”. Na poesia da aventura humana o sílex constituiu o córtex, como quiseram Gourhan, Spengler, Moscovici e Canguilhem. O silício dos chips nas redes hibridizadas continua a história da vida evolutiva humana nas conexões que instauram múltiplos e complexos diálogos digitais e constituem, a cada segundo o fantasmagórico alucinante e consensual ciberespaço real. Seria a saga da linhagem tecnológica da qual nos falou tão bem Deleuze e Guattari em Mil Platôs? Fluxos caóticos...impregnados de paixão, subjetividades e interesses como nos falou Latour sobre a técnica? Finalmente, em Prigogine e Stengers - A Nova Aliança, quando propõem que há uma metamorfose atingindo “em cheio” as ciências contemporâneas, fazendo-as descobrirem a natureza no sentido da physis. Uma “escuta poética da natureza, processo natural em um mundo aberto”, como eles disseram. A autonomia das coisas e não apenas das coisas vivas é admitida pela ciência. Uma poesia dos quase-coisa objetos como se refere Serres aos objetos técnicos? Ou o pesadelo das máquinas autômatas ameaçadoras do poder humano sobre tudo, como temem os ingênuos distópicos? Pensar a técnica nessa perspectiva talvez possa causar algumas dissonâncias frentes aos discursos racionais, racionalizados, racionalizantes e deterministas da técnica, da natureza, da ciência ou da sociedade. Mas também pode, inaugurando caminhos mais abertos para o pensamento e para a vida, abrigar metamorfoses contemporâneas que nos salvem dos perigos extremos, como nos alertou mais uma vez Heidegger, escondidos nos casulos esquizofrênicos da racionalidade iluminista e faustiana, que nos aprisionam numa catastrófica lógica instrumental, exploradora da natureza, da técnica e do próprio homem. A poesia da vida physis continua libertando seres alados dos casulos, enquanto os seres pensantes pilotando uma obsoleta techné voam sempre nos mesmos céus. Conseguiremos voar “além dos aviões de carreira” ?