Panopticon - O
que te motivou a criar o BlogChalking?
Pádua - Eu tenho vontade de encontrar
pessoas vizinhas que, como eu, usam diariamente a Internet e escrevem
seus pensamentos, suas impressões sobre a vida. Daí
precisava de um sistema para procurá-las de um jeito mais
fácil. Por acaso, num belo dia (ou bela noite, não
me lembro), veio a idéia de fazer isso de um jeito mais simples.
Panopticon - Qual tem sido a repercussão
do BlogChalking? Como está o número de acessos?
Pádua - Tem sido grande, já
li artigos de vários países a respeito. E o site teve
uma visitação enorme no último mês. Já
recebi inclusive propostas de hospedagem gratuitas. Mas preferi
descentralizar a brincadeira e coloquei o site inteiro disponível
para download. Qualquer um pode pegar a idéia e aperfeiçoá-la.
Panopticon - Qual a idéia que
você tem da internet enquanto mídia? Quais as possibilidades
mais interessantes, na sua opinião?
Pádua - Imagine um mundo sem
rádio, sem TV, sem internet. No cotidiano, as pessoas trocam
informações umas com as outras, seja apenas falando,
escrevendo cartas ou qualquer outra tecnologia. E é como
se duas pessoas se conectassem, trocassem informações
e depois fossem formar outras conexões com outras pessoas.
Toda tecnologia de comunicação serve para melhorar
este processo cotidiano - e a
Internet é um modelo ideal. Na Rede, criamos conexões
dinâmicas aos pares diariamente. Por isso acredito nas aplicações
que promovem estas trocas descentralizadas, mas integradas. Basta
olhar os verdadeiros killer applications da rede: e-mail, instant
messaging, p2p.
Panopticon - Na sua visão, qual
o papel dos blogs dentro do fluxo de informações da
internet?
Pádua - Os blogs trazem mais
pessoalidade às informações da Web e deixam
mais claro que por trás do amontoado de computadores e cabos
estão mentes e corações. Isso é importante
porque não podemos perder a noção de que tudo
isso existe para que seres humanos vivam suas experiências
e relacionamentos.
Panopticon - O que você acha
da forma que a internet está tomando? De um lado a sua ocupação
por portais, grandes empresas, grandes veículos, da visão
empresarial da rede, e do outro a comunicação entre
usuários que buscam a rede como ambiente de relacionamentos
e busca de conhecimento e informação? Aonde entram
os blogs nesse processo?
Pádua - Difícil dizer
qual forma a Internet está tomando, ainda é cedo para
afirmar. Mas é claro um conflito entre os querem dominá-la
e os que a defendem como espaço público de importância
social. E neste conflito os blogs estão no meio. Porque a
idéia de "grandes veículos" está
associada à visualização monolítica
das organizações. Toda
organização de fato é uma comunidade, um grupo
de pessoas. Com os blogs, aqueles que pensam na Internet como mais
um mercado de massa vão notando que ela é muito mais
um conjunto diverso de indivíduos, que mobilizam-se com facilidade
e por isso é quase impossível de ser dominado. Com
esta inteligência coletiva facilitada, nos blogs por exemplo,
a inversão nas relações de poder torna-se mais
clara.
Panopticon - Qual a sua visão
do jornalismo amador dos blogs?
Pádua - O termo jornalismo é
uma das muitas convenções já criadas sobre
a mesma atividade humana: a narrativa do cotidiano. Com o advento
da mídia de massa nos acostumamos a dizer que o formato de
narrativa nela praticada é "profissional", mas
isso é fruto da falta de opção tecnológica.
Com a Internet e a descentralização
dos recursos para a publicação da narrativa - aliás,
a democratização da capacidade de ser ouvido - há
espaço para surgimento de maneiras diferentes de narrar.
O blog é uma delas, e sua natureza pessoal rompe com alguns
vícios do jornalismo de massa, como o engessamento da linguagem
e sua impessoalidade forçada, que esvazia, de forma às
vezes hipócrita e burra, a narrativa. Sem contar que a diversidade
possível nos blogs também promovem o contato com a
diferença e a amenização de alguns processos
de formação de preconceitos.
Panopticon - Você acha que os
blogs têm algum potencial jornalístico?
Pádua - Alguns tipos de blogs
podem tornar-se as fontes de informação número
um dos jornais de grande distribuição, porque possibilitam
a contribuição descentralizada das comunidades, trazendo
relevância ao conteúdo e capilaridade às redações.
Sem contar que, na Internet, sempre haverá espaço
para o surgimento de um narrador ou outro que seja mais linkado,
e por isso mais valorizado, do que jornais inteiros.
Os blogs são a narrativa em seu estado mais essencial. De
fato, devemos nos perguntar se os jornais tem algum potencial de
voltar a serem simples.
Panopticon - Você utiliza os
blogs como fonte de informação, como outra mídia
qualquer?
Pádua - Eles se tornaram fontes
de informação de grande relevância para mim.
E isso não é nenhum absurdo. Veja bem: na minha vida,
tenho o meu trabalho e
meus momentos. De ambos, fazem parte pessoas que eu conheço
e converso
diariamente, e se formos pensar, eu precisaria, num primeiro momento,
apenas das informações sobre esta minha comunidade
para continuar vivendo as minhas experiências. Pois então,
como trabalho com a Internet, a comunidade está online, em
grande parte nos blogs.
Panopticon - Haveria alguma utilidade
para o BlogChalking em relação ao jornalismo online
e os blogs de jornalistas?
Pádua - A utilidade do BlogChalking
é a mesma - falar um pouco mais sobre as pessoas por trás
das palavras. Se os jornalistas tradicionais acharem nisto uma vantagem,
então a ferramenta pode ser útil.
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