:: Janelas do Mundo ::

Janelas do Mundo é uma experiência coletiva de ciberliteratura. Trata-se de narrativas pessoais a partir do que é visto das mais variadas janelas ao redor do globo.
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:: Quarta-feira, Julho 02, 2003 ::

Da Janela de um hotel em Ottawa só tristeza do lado de fora. Uma cidade fria e morta em pleno verão dá o que pensar em como será a mesma a -40 graus no inverno. Coisas que fecham cedo, poucas pessoas na rua, nada pra ver a não ser as belezas naturais da cidade.

Já as luzes foscas da Janela de uma espelunca em Montreal revela um outro Canadá, pulsante, jovem, vivo e alegre no verão de 35 graus. Festival internacional de Jazz, restaurantes cheio, tudo parece querer mostrar-se. O contraste das duas cidades mostra bem a enormidade desse país.


:: andre lemos 11:34 [+] ::
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:: Sexta-feira, Maio 09, 2003 ::
Minha janela é meu espaço interior, dele observo o que me cerca, meus amigos, minha vida, meus passos
.... é meu olhar diferente e diverso a cada momento fugaz ...
..... é meu distante ser que se reintegra a cada amanhecer !
..... é o mundo, o céu, o universo das constelações infindáveis de nosso existir ! (Rozimar Carvalho - Rio de Janeiro)
:: Rozimar Carvalho 20:47 [+] ::
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:: Segunda-feira, Abril 28, 2003 ::
Da minha janela só chuva e nessa Ria do além mar os aveirenhes se encolhem nos seus guarda-chuva tentando escapar da umidade impregnante. Bicicletas estacionadas buscam a ferrugem enquanto o sino da igreja em frente me lembra que são dez horas da manha e que tenho que trabalhar...
:: andre lemos 06:07 [+] ::
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:: Terça-feira, Abril 22, 2003 ::
olho pela janela e não vejo nada. Onde estão as pessoas lá de baixo, onde estão todos aqueles animais selvagens que sempre andam por aqui? sumiram todos, desapareceram ou simplesmente eu não consigo mais enxerga-los? O tempo vai passando e nada melhora, apenas a escuridão. Mas a janela ainda está aberta e é isso que faz com que exista a vontade de olhar, mesmo que nao se acerte nenhum alvo, mesmo que todos tenham ido embora. Será isso?
:: andre lemos 10:37 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Fevereiro 17, 2003 ::
Janela conectada

a amiga Lenara manda essa de NY:

"A neve continua, neve e mais neve, vento, meio metro
de neve acumulada! To aqui na janela vendo a neve
cair. Nao porque sou romântica, mas porque a janela
é o unico lugar que tem Internet (carona na rede WiFi
dos vizinhos)"
Veja só a situação: a foto é da Reuters:

:: mari fiorelli 15:50 [+] ::
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:: Sexta-feira, Janeiro 24, 2003 ::
Janelas de avião abrem o olhar para o nada, para o mar de núvens. O olhar se perde em meio ao nada...olhando para fora para olhar para dentro. Toda uma filosofia técnica de construção para os devaneios sociais.

..."nem para uma janela de avião é sempre fácil satisfazer a todos...qualquer que seja a posição do passageiro, cada jato tem um design e uma filosofia própria em relação a janelas..." (Icaro, nov. 2002).
:: andre lemos 12:01 [+] ::
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:: Sexta-feira, Janeiro 10, 2003 ::
das minhas janelas só torres de celular. Nova praga das cibercidades...
:: andre lemos 17:44 [+] ::
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:: Quarta-feira, Janeiro 08, 2003 ::
Para começar o ano, algumas músicas que eu gosto, que falam de janelas...

PAIS E FILHOS
Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

... Ela se jogou da janela do quinto andar.
Nada é fácil de entender...


QUANDO O SOL BATER NA JANELA DO TEU QUARTO
Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

... Quando o Sol bater na janela do teu quarto
Lembra e vê que o caminho é um só...


ESQUADROS
Adriana Calcanhoto

...Pela janela do quarto, pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela, quem é ela?...


BAILA COMIGO
Rita Lee

... Na hora agá, quando a bomba estourar, quero ver da janela
Entrar no pacote, titi camarote...


NOITES COM SOL
Flávio Venturini e Ronaldo Bastos

...Vem me trazer amor
Pode abrir a janela, noites com sol e neblina...


TOADA MINEIRA
Vermelho / Ronaldo Bastos

...Chuvosa neblina, janela do ônibus
Minas passando como aparição...


DOMINGO
(SAMBA ENREDO da União da Ilha de 1977)
Aurinho da Ilha, Ione do Nascimento, Ademar Vinhais e Waldir da Vala

...Vem amor
Vem a janela ver o sol nascer...


PAISAGEM DA JANELA
Lô Borges e Fernando Brant

...Da janela lateral
Do quarto de dormir...


CORCOVADO
Tom Jobim

...Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor, que lindo!...


JANUÁRIA
Chico Buarque da Hollanda
...Toda gente homenageia Januária na janela
Até o mar faz maré cheia Pra chegar mais perto dela...


CAROLINA
Chico Buarque da Hollanda

...Eu bem que mostrei sorrindo
Pela janela, ai que lindo, mas Carolina não viu...

... Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela
E só Carolina não viu...


A BANDA
Chico Buarque da Hollanda

...A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela...


ESPERANDO NA JANELA
Gilberto Gil

... falar do meu amor prá ela, ai, ai
ta me esperando na janela, ai, ai...


A MENINA E O POETA
Roberto Carlos

... A menina na janela
Botão em flor se abrindo...


À JANELA...
Roberto Carlos - Erasmo Carlos

... Da janela ao horizonte a liberdade de uma estrada eu posso ver.
O meu pensamento voa livre em sonhos...


JANELA INDISCRETA
Lulu Santos

... Minha janela indiscreta
Bem aqui de frente...


FAIXA AMARELA
(Zeca Pagodinho/Jessé Pai/Luiz Carlos/Beto Gago)

... Uma cortina grená para enfeitar a janela
Sem falar na tal faixa amarela...


A TUA PRESENÇA MORENA
Caetano Veloso

... As casas tão verde e rosa que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela...


MALANDRINHA
Nelson Gonçalves

... A lira de um cantor em serenata
Reclama na janela a sua amante...


CHÃO DE ESTRELAS
Nelson Gonçalves

... nossas roupas comuns dependuradas
na janela qual bandeiras agitadas...


OUTRA BELEZA
Paralamas

... O sol se põe na paisagem da minha janela
Se o telefone tocar já sei que é ela...


SKA
Paralamas
... Relembrando da janela tudo que viveu
Fingindo não ver os erros que cometeu...


CINCO BOMBAS ATÔMICAS
Jorge Mautner, Nelson Jacobina

...Da janela do quarto eu vejo
Você, meu grande desejo...

Um Feliz 2003 para todos, de todas as janelas!

:: Jurema Sampaio 18:52 [+] ::
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:: Terça-feira, Dezembro 31, 2002 ::
Janelas com fogos de artifício...e o mundo se prepara para 2003. Aqui da minha janela não vejo nada, mas em breve ela estará iluminada pelos fogos do novo ano. Que as janelas se abram mais e mais em 2003!!!
:: andre lemos 20:45 [+] ::
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:: Quinta-feira, Outubro 10, 2002 ::
Do Carlos Henrique Alves Costa


Varanasi

Estava em Nova Déli, na Índia, a fim de concluir a pós-graduação em imunologia. Da janela do avião, antes de descer, pude ainda assistir a um espetáculo crepuscular, a luz se perpetuava teimosamente sobre a fímbria do horizonte, lançando sobre aquela parte do firmamento raios vermelho-ocres. Daquela pequena janela o mundo não tinha fronteiras e as poções de terra se estendiam preguiçosamente até onde as vistas alcançavam.
Contudo, sentia-me estranho e pensava: este sujeito que sou está estranho. Quando ao mesmo tempo refletia, mas quem é “esse” que consegue se pensar estranho, estando estranho ou não? Na minha bagagem além dos livros técnicos havia um de poesia, um livro do grande poeta Fernando Pessoa. Na espera dos colegas que iriam me recepcionar, lia do livro o sugestivo poema: Gato que brincas nas ruas / Como se fosse na cama / Invejo a sorte que tua / Porque nem sorte se chama / Bom servo das leis fatais / Que regem pedras e gentes / Que tens instintos gerais / E só sentes o que sentes/ É feliz porque és assim/ O nada que tudo és teu / Vejo-me e não estou em mim/ conheço-me e não sou eu. Permaneci atento aos meus sentimentos e cheguei a desafiar o próprio Descartes em seu “cogito, ergo sun” (penso, logo existo), talvez fosse muito mais apropriado, concluía: sinto, logo existo. Embora nas ciências ditas pesadas a subjetividade é um pecado, e um pecado maior! Levado a termo o psiquismo um mero fenômeno dos movimentos nervosos.
Enquanto isso os meus colegas: um residente brasileiro, de nome Leucas e dois Indianos, com os nomes Asran e Rioddan, haviam chegado no aeroporto. Conversamos muito sobre a incrível cultura daquele país. Mais tarde, no centro de pesquisa, falamos sobre o trabalho a fazer. Um vírus recém descoberto HTLV1 mostrava características parecidas com o HIV, o vírus da AIDS, embora o HTLV1 tivesse necessariamente um tropismo (uma preferência) pelo sistema nervoso.
Então Rioddan, um dos indianos, passa a me explicar:
æ No distrito de Varanasi, essas duas entidades virais parecem conviver sem se misturarem, dotados que são de uma condição biológica desconhecida. Não há um único indivíduo humano portador das duas enfermidades, embora já sejam doenças endêmicas nesta região.
æ Alguma suspeita? æ pergunto a ele com expectativa.
æ Penso ter uma razão biológica essencial, mas que no momento nos escapa, deixando-nos, em verdade, embaraçados pela multiplicidade de fatores e a singularidade dos eventos æ respondeu com credulidade duvidosa.
Asran, o outro indiano, que acompanhava atentamente, remexeu-se na cadeira com alguma inquietação e disse:
æ Os vírus como nós todos sabemos são seres que estão no limite entre o que é vivo e o que é inerte e inanimado, são por definição seres intercelulares obrigatórios. A “vida” deles praticamente se resume a replicarem-se indefinidamente, extratos orgânicos somente com a autofinalidade de perpetuarem-se. Neste caso de Varanasi parecem ainda funcionar como espécies que se auto-regulam, dentro de um ecossistema restrito, ou seja, não competem como deveriam. Organismos que demonstram ter sua autonomia influenciada a partir do ambiente imediato, ou seja, uma interação com o meio externo, a fim de manter a homeostase interna. E é claro, uma avançada auto-organização capaz de sustentar o que conhecemos como vida.
æ Sim, Asran! æ Leucas o interrompe. æ Mas por essa concepção de interação poderíamos até imaginar que a própria Terra é um organismo vivo. Já que hoje se sabe que ela de fato mantêm uma homeostase global. Para se ter uma idéia... a percentagem das bases nitrogenadas no solo, a salinação nos oceanos, os gases atmosféricos... e tantos outros dados relevantes são no mínimo intrigantes, pois ocorrendo a alteração de apenas 1% nesses elementos, poria toda a vida em risco.
Asran continua, enquanto Rioddan nos oferece um chá quente de aroma doce.
æ De fato Leucas, tudo que é vivo parece obedecer a esses princípios, de auto-regulação e interação com o meio circundante, a própria terra o faz também a fim de manter sua homeostase, o que seria dela, por exemplo, sem as radiações exteriores e seu controle para vida. E mesmo para nós organismos com inteligência, como bem teorizou Piaget no desenvolvimento cognitivo, o fazemos por uma série de equilibrações com o meio, ou seja, adaptações sucessivas. Um esquema mental apreendido será suficiente até certo momento, quando for insuficiente forçará o indivíduo, na relação com o meio, a buscar um novo esquema. No âmbito cultural o meio também é importante, somos algo como produto e produtor da cultura que nos permeia, estamos sempre a produzindo e sendo retro-alimentada por ela.
Então complementei, ao terminar o chá, visivelmente com entusiasmo.
— Todo esse assunto me interessa muito, meus colegas. Contudo, quero colocar um novo problema, um tanto filosófico. Somos uma entidade orgânica sim! Possuímos uma evolução biológica comprovada, do Homo habilis, o australopiteco com sua capacidade celebral de 800 cm3, comparável a de um macaco, passamos pelo Homo erectus, o Pithecanthropus de java com 900 cm3; até o Homo sapiens neanderthalensis e próprio Homo sapiens sapiens com 1600 cm3. Demonstrando que existiu uma transformação profunda da consciência com o aumento da capacidade cerebral, orgânica mesmo. Outrossim, com esse desenvolvimento também algo inteiramente novo apareceu na história da vida, justamente aí se dão os primeiros indícios de pensamento mitológico e místico. E fico a me perguntar desse sujeito que somos hoje, inseridos numa cultura mais complexa, fluindo em espaços virtuais, mundo globalizado, possibilidades ainda desconhecidas, o que poderemos falar dele enquanto autonomia e consciência verdadeiras?
Leucas se adianta.
— Uma coisa posso acrescentar com tranqüilidade, de um ponto de vista mais filosófico e mesmo social, dentro especificamente da cultura ocidental. Esse sujeito como ser que se autodetermina, autônomo portador da liberdade e consciência foi sendo duramente criticado por várias correntes e inevitavelmente, por outro lado, vinculado com o tempo ao projeto da modernidade. É certo com Marx, Nietzsche e Freud a partir do séc. XIX, de livre consciência o homem passa a um ser determinado e inconsciente. A partir daí o que conta são as estruturas econômicas ou ainda outros agenciamentos de controle, ao mesmo tempo, por exemplo, o inconsciente ganha a parti da Psicanálise um papel preponderante nessa determinação. Acredito que a figura do sujeito realmente deixa de existir e passa a ser uma sujeição de um projeto de época.
Então verbalizo:
— Sem dúvidas! O sujeito parece andar na corda bamba esticada pela própria cultura, e esta corda é esticada para onde as vistas não alcançam, ao menos, tenho compreendido assim nossa sociedade. Mas, lhes pergunto, e essa subjetividade que torna cada um diferente e nos faz reconhecermos aqui e agora, no passado ou no que virá? Acrescentando ainda, para essa discussão, e a dimensão afetiva e existencial, por vezes excruciante, que tocamos ou talvez, na verdade, somos arrebatados por ela, nos deixando plenos de incertezas? O que nos coloca no mesmo ponto dessa primitiva humanidade ancestral que teve sua tomada de consciente e houve a percepção de nossa finitude enquanto indivíduos redutíveis a pó.
Asran acrescenta:
— De fato, caro colega, é muito difícil tal questão, uma vez que não podemos ultrapassá-la totalmente na ciência. Embora essa última procure está sempre na verdade, contudo, de forma alguma, é garantia da verdade. Diria ainda a você que somos inexoravelmente atravessados pela cultura e falamos por e com ela a todo o momento. Se tirarmos toda as coberturas, talvez aí, encontremos o sujeito, mas temo que nem isso possamos fazer eficientemente.
Conclui Leucas, após tossir três vezes:
æ Por outro lado, nossa natureza oscila entre o tudo e o nada, o eu individual de cada um se acredita o centro do mundo, mas objetivamente não é nada diante do que é manifestado, do tempo e da eras.
Rioddan que estava muito quieto se levantou e, com algum arrojo, disse sem cerimônias.
— E porque não a arte, a poíesis para responder a tudo isso. É um conhecimento pelo intuitivo, e talvez saiba melhor dizer, nesse caso, do que o extrato da razão. Não podemos desprezar que a própria razão infere as limitações dela mesma. Não vamos apenas utilizar a indução e a dedução para conhecermos o mundo, andar sim, na trilha do empirismo, porém nos deixando abduzir pela experiência do inefável e do feérico.
Naquele exato momento, o Sol estava nascendo em tons fugidios da cor amarela, e vinha se firmando com intensidade das manhãs claras. Da sala do laboratório, no centro de pesquisa, uma janela mais alta deixava a luz passar imprevidentemente, marcando seu trajeto, projetando a exata abertura, na parede do outro lado da sala. Miríades de poeira pairavam entre as sombras que ainda vigoravam e agora se mostravam indefesas a luz que viria. Numa estante mais alta onde guardara o livro do poeta, o feixe de luz imposto pela abertura da janela impregnou metade de sua capa, deixando a outra metade imersa em plúmbea escuridão.



Carlos Henrique Alves Costa set/99

:: andre lemos 08:54 [+] ::
...
:: Terça-feira, Setembro 17, 2002 ::
essa janela eu nao desejo pra ninguém...

:: andre lemos 10:02 [+] ::
...
:: Sábado, Setembro 14, 2002 ::
E do meu leito no hospital vejo uma janela com um jardim maravilhoso. A chuva cai lá fora e espero sair rapidamente para me molhar nela. Das janelas do morro e da cidade:

"Aqui embaixo as pessoas se prendem demais aos eletrônicos, DVD, telão, não sei o quê. Na favela elas conseguem abrir a janela do barraco e olhar para a tela que é o mundo, a cidade embaixo. Aqui ninguém sai da tela para abrir a janela, é uma diferença muito grande".

Misael, da Radio Favela, na Revista Trip, n.104.

Daqui há alguns dias coloco fotos...
:: andre lemos 09:41 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Setembro 05, 2002 ::

Rozimar e Janeleiros em geral:
Vejo das minhas janelas atuais uma UTI e um quarto de hospital. Uma criança que chora. Já não me assusto mais.E não me acho merecedora de milagres. Apenas estou em paz.. Por reconhecer um Deus nestes tempos atribulados: ele está em toda a parte e põe e dispõe as coisas e pessoas,como bem entende.O que podemos fazer é nos encher de esperança: boba, vadia,alegre,enorme....Um sorriso no rosto e um coração cheio de esperança. Quem dera todas as janelas do mundo se abrissem assim!!!!!!
Beijos ...
até a volta!
Lilian mello
Barbacena/MG

:: Lilian Mello 22:48 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Agosto 07, 2002 ::
Entre notas musicais encontrei uma razão para viver.
:: Ligia Caldeiras 23:02 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Julho 25, 2002 ::
Possível diálogo entre mundos distantes.


Presente mais que perfeito. O carro cheio de chips, mas ainda movido à gasolina pára em um semáforo de alguma cidade sul americana.
Um garoto de rua deixa por um instante um tubo de cola de sapateiro e vai até a janela do carro. Dá uma batidinha do vidro. O motorista abre o vidro apenas uns 3 centímetros.

- Moço, me dá um dinheiro pra eu comprar pão com velho?

- Tenho não, garoto.

- Mas com um carrão desses?

- Pois é. Tenho cartão de crédito, débito automático em conta, agendamento de contas, aplicações em fundos de renda fixa. Mas dinheiro pra pão velho eu não tenho.

- Mas moço, com tanta coisa pra lhe ajudar o senhor não tem como arrumar pão velho?

- Não garoto. Temos telefones celulares, palms, redes digitais de comunicação, notebooks, mp3 players, gravadores de CD, e-banking, vídeo conferência, porteiros eletrônicos, sensores de trânsito, modems, ftp’s... Temos a Microsoft, mas pão velho nós não temos!

- Mas moço, não acredito que com tudo isso não tem pão velho.

- Pois é garoto. Temos ainda satélites, comunicação em tempo real, telefonia por satélite, carros blindados, GPS, relógios com múltiplas funções, TV a cabo, chaveiros de memória, prédios inteligentes, e-lerning, e-bussines... mas pão velho nós não temos.

- Mas com tudo isso, moço, não dá pra arrumar uma moeda pra eu comprar pão velho?

- Sabe o que é, garoto. É que temos usinas nucleares, miras a laser, detectores de radar, aviões invisíveis a esses radares, mísseis balísticos, armas atômicas, guerra química e biológica, crime digital e países como o Paraguai onde você pode encontrar – baratinho
– quase tudo isso.

- Mas moço...

E com tudo isso ainda temos poder paralelo, terrorismo em rede, especulação financeira em rede mundial, escândalos em bolsas de valores, destruição do meio ambiente e políticos corruptos. Temos até pão novo! Mas pão velho nós não temos...

O semáforo abre. O carro sai, mas a embreagem vacila e ele estanca.
Toinnhonhonnhonhooooin.... click. Toinnhonhonnhonhooooin... e nada. O moço sai do carro e pede ao garoto e outros amiguinhos para dar uma força.

- Galera! Vamo dar um empurrãozinho aí pro carro pegar no tranco.

- Mas moço, com todas essas coisas que o senhor disse aí, como é que seu carro pifa?
- Pois é garoto. Às vezes tem dessas coisas... o troço não funciona. Sabe o Titanic?
- Sei. Aquele do filmão. Por que?

- Sabe a arca de Noé ?

- Claro moço, aquelas dos bichinhos. Mas o que é que tem a ver?

- Seguinte garoto... A arca de Noé foi feita por amadores, o Titanic por profissionais!


:: jos? afonso 16:37 [+] ::
...
:: Terça-feira, Julho 16, 2002 ::
Do "904"

11

Edição tardia.



Salvador se derrama.
Pano sobre.
Três fotos chega sobram.
Espalho a janela pelo 304.
Tinta azul mancha os tetos.
Talhos retos.
A primeira foto capta o ar do pó lhe te ã mar à Rua Direita da Piedade.
Na segunda foto, continua a Direita, da esquerda para a direita, por cima do estacionamento e dos Barris.
A terceira foto dá para outra parte do estacionamento, à esquerda, e da cidade velha, à direita, além da Piedade: Dois de Julho, Lapa, Mouraria, Nazaré, Pelourinho.
Nos começos da minha morada em Salvador, a poucos passos da janela do 904, a hospedaria ficava na Rua do Rosário, Hotel São José, de onde hoje em dia saem casais que estavam na cama, pai de família com dois filhos, casal de amigos, homem e mulher, e de cuja janela do primeiro andar contei lataria de carros.
Candeal me pertenceu.
Jardim Brasília.
Mato igual.
Costa Azul.
Bahia seguida a Vitória.
Maço no Iguatemi.
Enquanto isso, um cartão com foto a cores mostra a "banca Politeama, apostilas para concursos, jornais, revistas e além de tudo um ótimo atendimento, Carlos, Rua Clóvis Spínola, s/nº, (...), (Orixás Center), tel.: (071) 329-3889, (...)".
Na primeira foto, há banho que a.
A segunda ilustra vir e ir.
A terceira se dilata.
Você vê o casarão ("Igreja") de São Raymundo, na primeira foto; as quatro bandeiras ("Ordem e progresso"), na segunda e na terceira fotos; a palavra Salette, na primeira foto; as palavras Center Lapa, na terceira foto; o Gabinete Português de Leitura, na segunda e na terceira fotos, etc.
A lista se estica.
Mais a paisagem não desaparece.
Nada do mar.
A indefinição da imagem não limita a visão.
Reina o não dito.
Reitero infinito.

wladcaze@svn.com.br
:: Wladimir Caz? 10:00 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Julho 15, 2002 ::
daqui só vejo o mundo... Tudo bem: o Cristo continua lindo, mas lá, retido na altura, ontem encoberta, hoje verde, mas ainda fria. Queria estar em outra casa, junto a outra gente, viver outras histórias.

:: Bernardo Schepop 10:43 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Julho 01, 2002 ::
Do Gottfried Stockinger

Gottfried


A pontualidade do sol na Bahia

Desta janela virtual, que situo em Viena, Austria, tudo fica longe. Salvador
não passa de um ponto no horizonte. Claro que sei que vice versa vale o
mesmo. Quando estou em Itapuã, a Austria inteira se reduz a um traço ínfimo.
Reduzido assim, no tempo e no espaço, o objeto assume uma perspectiva
diferente, compactada, resumida, indiferenciada. De repente não há mais
objetos a diferenciar dentro do objeto observado: tudo é uma cultura só.
Tudo que separa as culturas na comunicação contemporânea desaparece. E nada
pode ser imaginado que seja razão suficiente para gastar energia vital em
quebrar o que só funciona unido.
Estes e outros pensamentos passam pelo meu ideário, quando ouço soar o sino
da igreja do lado, na hora do avemaria. É sinal de que o sol começa a se
por, ainda que dizem que o sol não é capaz de ouvir o soar dos sinos. Se bem
que por aqui o sol não é pontual. No inverno já deita as 4h da tarde, e no
verão demora até as 9h da noite. Na Bahia não. Lá, ele é pontual. Vai das 6
às 6, com poucas aberrações. Pontualidade é o que importa na Bahia, diz o
sol a si próprio e faz o seu serviço. O relógio é ele. É por isso que meu
relógio bahiano se resumo numa fita do Senhor do Bomfim no pulso. Mesmo a
marca que ela deixa depois de cair serve para ler a hora atual, conforme a
posição do sol. A noite, até o raiar do dia, a hora é uma só, e qualquer
relógio só atrapalha.
Atrapalhar. A proposito volta aquela história. Gastar energia para se
atrapalhar. Nunca vi tanta trapalhada como em universidades. Tanto faz o
lugar onde funcionam. É sempre inveja e intriga e uma tal de luta pelo poder
e por funções e no final ninguem fica feliz. Há exeções, é claro. Há
estabilidades esporádicas que permitem com que uma unidade floresça. Há
construções comunicativas que fazem avançar, por algum tempo, algum ciclo.
Mas a crise sempre paira. Sobretudo em áreas, onde a ciência e a arte de se
expressar e viver, se encontram. Todas as ciências humanas sofrem deste
fenômeno. Cada um está sensibilizado pela condição humana que ele ou ela
estuda. E a área da comunicação resume todas elas. É por isso que o conflito
está pre-programado. O debate, a crítica, a réplica e tréplica, a oposição
de ideias e concepções, enfim a novidade a cada passo, é isso que carateriza
a área da comunicação. São essas as técnicas pedagógicas e produtivas para
chegar a resultados bem sucedidos. Se nada houvesse a contrapor, será que
alguem teria dito algo?
Da minha janela, não me vejo agir. Não vejo-me abrindo portas e perguntando
se está tudo bem. Não me observo olhando nos olhos das pessoas que aparecem
na minha frente. Não observo-me a querer constatar se há ou não há algum
brilho de felicidade, de vitalidade imediata. Não me percebo ao constatar
que estou olhando para o espelho. Não percebo-me com a mesma dúvida nos meus
olhos. Mas quando levanto da janela, vontade de agir emerge. Abro, pergunto,
observo, constato, brilho, vivo, me espelho, duvido. Quando levanto da
janela, estou em pé e procuro uma saída.

Viena, em 25 de Junho de 2002


:: andre lemos 11:27 [+] ::
...
:: Sexta-feira, Junho 21, 2002 ::
E da janela do meu quarto de hotel perto da Avenida Paulista vejo cartazes e painéis luminosos convivendo com prédios de outras janelas. Tudo chama a atenção na poluição visual urbana de São Paulo. As árvores e o céu nublado, iluminado e sem estrelas, compõem um mosaico de imagens que fazem da rua uma janela de janelas coloridas e pulsantes. Os painéis apontam pra tudo: Dança do ventre a R$45,00, relógio indicando a temperatura de 18 graus, sinal luminoso chamando a atenção para um cruzamento perigoso, painéis em neon de um supermercado distante, e muitas, muitas janelas com bandeiras do Brasil penduradas. E da minha janela, luzes pipocam no céu da Paulista sinalizando que o Brasil fez o dois a um na Inglaterra, passando das quatro e meia da manhã. E os painéis continuam acesos, piscando indiferentes a alegria histérica nacional.
:: andre lemos 18:00 [+] ::
...
:: Terça-feira, Junho 18, 2002 ::
Da janela de meu SER, tenho vista para o mar .... O MAR DE MINHAS EMOCOES.... um mar revolto as vezes, chegando a bater fortemente na praia, e noutras, porem , repleto de marolinhas e candidas linguas a acariciar as areias macias e finas... minhas sensacoes cristalinas e finas a espiralar sentimentos afaveis e amenos.... sou feliz por nao precisar de nada ... por estar inteira em minha janela.... Da janela de meu SER tenho vista para o mar .... o MAR de minha ALMA.... um mar sereno e tranquilo.... quase cristalino.... sem grandes profundidades ....mas com inumeras belezas ainda insondaveis ...mas que tenho descoberto a cada mergulho... a cada introspecta abertura de minha janela.... da janela do meu SER tenho vista para o mar ....o mar de meu VIVER !
:: Rozimar Carvalho 23:14 [+] ::
...
Abro minhas janelas e coloco um jarro com violetas, simbolizando a transmutacao das coisas, dos sentimentos dos problemas das dores, das duvidas.... vejo de minha janela uma mae que chora com o coracao despedacado pela dor e desesperanca .... e digo MAE ... sua dor pode ser grande mas a sua ESPERANCA deve caber dentro de seu coracao....e olha que coracao de mae e' ENORME !!!! Tudo passa.... tudo muda.... a ciencia descortina a cada instante novas possibilidades, temos uma OPEP Biologica em nosso Pais, a imensa floresta Amazonia.... com inumeras e infindaveis chaves para solucionar os misterios da saude do planeta.... minhas queridas Lilian e Alice ... vamos continuar a passear ... vamos abrir as janelas do coracao e deixar entrar a aragem da ALEGRIA, da BUSCA , da PAZ e do AMOR a encantar nossa alma.... e envolver todo o nosso coracao..... Amo voces ........ A F'E existe para os que creem .... e CRER com FE e' ver onde ha um breu total !!!!! E quanto maior o breu ... mais firme deve ser a vontade de vislumbrar a LUZ ! Porque atr'as vem gente ..... Beijos Vitais da Tia Ro
:: Rozimar Carvalho 21:16 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Junho 17, 2002 ::
Ainda bem que não é só da minha janela que o Rio amanhece nublado...
:: Irene Kalil 17:24 [+] ::
...
:: Sábado, Junho 15, 2002 ::
Vejo das janelas do meu coração que nem tudo está perdido: lá fora tem sol e gente com uma vontade enorme de cantar. Vejo amigos antigos sofrendo. Vejo amigos novos que aprenderam a lidar com o sofrimento. Vejo a Rozimar com os olhos do meu coração: sempre sorrindo! Me achando tão especial..Mal sabe ela que ela é alento e candura prá mim e prá Alice.Que bom que nós duas já aprendemos a amar, né Rozimar?
"Senhor, sei que teu poder tem-me conservado em segurança há muito tempo.
E sei que me conduzirás, ainda,
mesmo que por rochas e precipícios, montanhas e desertos....Até que termine a noite!!!!
(John henry Newman)"

:: Lilian Mello 20:43 [+] ::
...
:: Sexta-feira, Junho 14, 2002 ::
Vejo da minha janela uma menina chamada Alice, passeando com sua mamãe, Lilian, que a ama intensa e profundamente.... desta janela, vejo uma menina que cresce bela e saudável, com o auxílio dos Anjos do Céu e dos anjos na terra .... vislumbro algumas pessoas, uns chamados Amigos Vitais que, mesmo ao longe (fisicamente falando), brindam a alegria de vê-las passear, mãe e filha, qual duas amigas, em busca do sucesso no seu tratamento.... ah vejo o SUCESSO chegando, encontrarão com ele em uma esquina da vida, com certeza, através de intensas sinergias divinas, capazes de transformar e transmutar tudo em nossas vidas .... ah ... vejo a chave alquímica desta transmutação ...... oh é a Fé e a Alegria !!!! Ah, em um canto, escondidinha, quase imperceptível, vejo uma mulher, uma tia Ro, que torce por que as duas amigas (mãe e filha - Alice e Lilian) encontrem logo o que procuram.... olha como nas brincadeiras infantis está morno hein,..... está esquentando mãe Lilian.... beijos Tia Ro
:: Rozimar Carvalho 17:45 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Junho 12, 2002 ::
Na frente da minha janela estão outras 336...
Quem precisa de vista para o mar?
:: Mateus Bastos 17:52 [+] ::
...
:: Domingo, Junho 02, 2002 ::
Das Janelas do meu mundo vejo música hoje,apesar de não ter muitos motivos prá cantar:
"Mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez...eu sei!
Escuridão já ví pior,
de endoidecer gente sã.
Espera que o sol já vem!!!"

:: Lilian Mello 21:20 [+] ::
...
:: Sexta-feira, Maio 31, 2002 ::

De minha janela da amizade, recebo o sol do carinho vindo de longe...
Daqui da JANELA de onde estou vejo um belo pedaço de céu
(nao estrelado, pq nublou hoje), uma frondosa árvore típica do litoral,
chamada "chapéu de sol". O barulho do mar parecendo uma cançao de
calma. Se vc estivesse aqui certamente faria nascer uma poesia...
Algumas andorinhas estao no maior alvoroço, pq é hora de recolher.
Vera Libertarte

:: Rozimar Carvalho 18:05 [+] ::
...
De minha janela, vejo uma poesia tao bela ....
JANELA INTERIOR

No centro do Mim
No urbano cotidiano do Eu
Descobri uma janela,
fenda incontida,
cravada, escondida no dia-a-dia
da vida !

Lembrança dos melhores tempos
Onde a esperança gerava o alento
Anseios contidos, latentes, reprimidos...
Nascidos e crescidos,
com o passar dos anos,
vividos....

Para onde dará minha janela ?
Será realmente minha ?
Ou criada do Eu para o Mim ?
Em que dobra do meu ser foi concebida ?

Janelas são para serem abertas ?
Ou, para sabermos apenas
Que por elas entrará a brisa trôpega
Das manhãs afobadas .... aragem
A perfumar e emudecer nossos sonhos ...
A embriagar nossos desejos ...

Estaria ela aberta ?
Ou lacrada pelo medo e pela desesperança ?

Janela interna
Meu posto de espera, meu deleite,
Meu escape em ilusões,
De onde desnudo paixões,
De onde sou puras emoções,
Vivendo intensamente
Toda a magia desta vida !
JANELA, janela de meu ser !
janela de meu nascer,
que me faz ver,
o que ainda não pude vencer,
o medo de crescer.... o medo de viver... o medo de SER !

:: Rozimar Carvalho 16:11 [+] ::
...
... de minha janela vejo um verde sem fim ... arvores, coqueiros, palmeiras que insistem, corajosamente, em enfrentar a loucura e intrepidez do homem que, com sua sede e fome financeiras, nao reluta em destruir .....Vejo montanhas, nao tao verdes quanto antes. Outrora via saguis, de uns tempos para ca, nao aparecem mais ... Pela janela, vislumbro o que sobrou de um lindo e arborizado bairro. Sonho com um futuro brilhante... onde arvores e homens serao plantacoes de uma imensa e extensa cultura, - a Cultura Ambiental.
Rozimar Carvalho - Rio de Janeiro

:: Rozimar Carvalho 15:05 [+] ::
...
:: Terça-feira, Maio 28, 2002 ::
impressão, ou todos estão com suas janelas fechadas?!
:: Irene Kalil 13:28 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Maio 20, 2002 ::
[_] uma nova janela no ar...
:: Bernardo Schepop 22:46 [+] ::
...
O terraço

Antes de mais nada: Ludmila, que janela a sua! Dá até vontade... Da minha janela, meio longe de Salvador agora, vejo somente a persiana. E, pelas frestas, alguma luz. Mas lá do Botafogo Praia Shopping da janela a gente vê o Pão de Açúcar e a Baía de Guanabara. E o céu, comovente de só azul. Quando azul. Que hoje está nublado. Como eu sei? Antes de abaixar a persiana, a minha janela estava aberta. Pra aquela mesma rua, a de paralelepípedos. Há uma semana descobri que o meu prédio tinha um terraço. Tinha não. Tem. E é enorme, e tem vista para o Cristo, ele abriu os braços pra mim e me senti menos sozinha nessa cidade. E do terraço - minha grande janela - vejo também algumas casas enterradas na floresta, mata fechada, marginal no meio da metrópole. Pensei em deitar no chão do terraço de barriga pra cima e pensei em convidar alguém, tem que ser alguém muito especial, pra partilhar meu janelão comigo. E meu Cristo. Sim, os outros condôminos vão ao terraço somente para fazer ginástica escondidos. Com música bate-estaca de ginástica ainda por cima. Eu não. Eu estou (a)guardando a minha visita para a próxima lua cheia, adoro ver do terraço o diálogo iluminado do Cristo com a lua. Às vezes acho que disputam quem tem brilho mais imponente, é, talvez discutam, e enquanto isso nos proporcionam aquela visão. Fumo um antes, que, infelizmente, no meu terraço há "janelas de vídeo" que dão para a portaria do prédio. Os porteiros assistem ao meu degustar a minha janela. Ponho o vinho debaixo do braço, e comemoro a minha sorte. Um brinde às janelas do mundo! Que são o mundo.

:: Irene Kalil 16:25 [+] ::
...
:: Sexta-feira, Maio 10, 2002 ::
minha janela em noite de lua cheia.



Vilas do Atlântico, Bahia, Brasil.

:: Ludmila Carvalho 11:10 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Maio 08, 2002 ::
olhando de uma janela para outra,

[..............................................]

o que há entre as duas janelas?
:: andre lemos 11:29 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Maio 01, 2002 ::

Fiquei receosa se deveria escrever mais, antes de alguém voltar a escrever. Mas como escrevo no meu blogg particular todo dia, acho "esquisito" ficar esperando p/ escrever... Hoje fiquei olhando a janela durante quase a manhã toda, na aula. Não que estivesse ruim, mas estava pensando nessa proposta aqui. Janelas... Eu sempre tive atração por janelas e portas. Mais janelas... olhar por elas, espiar. De prédios, então, me fascinam. Observar o mundo de uma janela. A janelinha do cuco da casa da minha avó. As janelas dos carros, ônibus e aviões que andei, quando chegava ou partia nas várias vezes que cheguei e parti dos lugares. É curioso, para mim, mais alguém gostar de janelas...



:: Jurema Sampaio 13:58 [+] ::
...
:: Terça-feira, Abril 16, 2002 ::
Da janela aparecem fluxos de bits, parabólicas conectadas, cabos embrenhados no asfalto e nos ares, partículas ou ondas circulando pela atmosfera poluída pelos automóveis. Fibra-ótica invisível, ondas de celulares circulam vozes mudas, imagens bestiais da televisão e sites chegando e partindo dos notebooks. Daqui a cidade transforma-se sendo sempre a mesma...fluxo de corpos em transporte, movimentação de impulsos elétricos invisíveis e efêmeros. Da janela vemos passivamente a modificação do urbano em uma esfera eletrônica fantasmagórica... e o corpo, sempre ele, apoiado no parapeito da janela tentando evitar a queda e o massacre da carne.
:: andre lemos 10:26 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Abril 15, 2002 ::

Hoje fiquei uma grande parte do dia na janela do apartamento de São Paulo, olhando... vendo as pessoas, o trânsito quase calmo de domingo. Gosto de ficar lá.
:: Jurema Sampaio 02:40 [+] ::
...

:: Segunda-feira, Março 25, 2002 ::

Abrir uma janela. Este gesto, transformado em expressão oral, tem sempre o significado de clarear idéias, renovar, dar outro modo de pensar. Pelas janelas vemos o mundo de fora, o "lado de lá" das coisas e da vida. Minha janela é tímida, pequeno vitrô acima, na parede lateral. Dá-me vista de pés e pernas. E geralmente pés e pernas "conhecidos" pois minha janela dá vista p/ meu quintal. Não um quintal "do tempo dos pardais", como diz a música, mas ainda assim um quintal com plantas, pássaros, água... gosto desta janela. Me diz se é dia, noite, se chove ou faz sol e não me expõem. Me tras coisas e não me leva a privacidade.

Beijinho
Ju


:: Jurema Sampaio 12:38 [+] ::
...
:: Sábado, Março 23, 2002 ::
Porto Alegre, 11º andar.
Nossa, daqui é alto mesmo! Pela frente vejo várias outras janelas, muitas delas iluminadas pelos raios da televisão. Cena comum nas grandes cidades, tanto quanto as que estão encobertas por uma cortina. Se me concentrar, chega até a ouvir um Plim-Plim!!! Ah, se eles olhassem em suas janelas, viriam tantas outras coisas. Tento me esticar mais um pouco, virando o corpo para a esquerda, imagino ver o Guaíba e o Gasômetro, fazendo de conta que aquela garagem não está na frente. Pelo menos sei que eles estão logo ali. Nessa virada, encontro a Borges iluminada, essa não se encobre com cortinas, está repleta de carros apressados, que em alguns momentos somem nas árvores. Será que estão brincando de esconde-esconde?

:: Silvia Meirelles 13:13 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Março 21, 2002 ::
da minha janela, nada de muito diferente.
a não ser o céu, que,
sabendo da minha reclusão compulsória,
decidiu amanhecer mais azul.
só de pirraça.
:: Irene Kalil 11:18 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Março 20, 2002 ::
há muito sumi. é que a minha janela era salvador, foi rio, bahia de novo. e ainda. os meus sisos me fizeram ficar com a janela da boca fechada. e "intransportável". então espero. enquanto isso, lembranças da minha janela carioca, primeiro andar, chão de paralelepípedo, crianças berrando na rua. um cortiço, praticamente. a vida urbana me espera.
:: Irene Kalil 16:12 [+] ::
...
:: Domingo, Março 17, 2002 ::
E o tempo passava como relógios em giros alucinados de ponteiros, para a direita e para a esquerda, sem parar, parando o tempo que passa, passando, ficando imóvel na sua cadeira em frente ao computador de luzes estrelares. Pensou mas não ligou a televisão, não queria ver imagens do além…estava fixo no tempo do seu quotidiano, olhando a janela, e as janelas de janelas daquela máquina fantasmagórica de codigos e luzes. O silêncio da rua chama a sua atençao, fenômeno raro nessa terra barulhenta. Lembra de Joyce e do pracabummmmmbummmmbummmmmmmmm, e o mundo se fez. Estava caindo, a cada segundo um pouco mais, caindo sem parar, uma queda infinita que parecia vôo, vôo para o interior, caindo como pluma voando, mas caindo, sem arestas para aparar a queda.

E o fundo aparou sua queda, imobilizou o fluxo de imagens e fixou seu olhar nas janelas da tela.

:: andre lemos 20:39 [+] ::
...
:: Sábado, Março 09, 2002 ::
Do Rodrigo Seabra de BH:

"Tem uma coisa que as pessoas todas nunca vão deixar de ser: eles serão
sempre pessoas. Ah, que lógico, que imbecil. Que dádiva. Serão ignorantes de
muito, de mais e mais, de coisas tão claramente óbvias quanto a inobviedade
de tudo que nos cerca. Mas serão pessoas, com o "je n'est ce quoi"
incorporado.

Eu às vezes me vejo Deus, não na ilusão: me sinto, sou, de uma forma nada
esquizofrênica, apenas introspectiva. É fácil me sentir parte de tudo, me
ver pela janela do nono andar, e aquela árvore sou eu, a rua, o céu com
nuvens de chuva recém-derramada, o pequeno crime na esquina. Tudo sou eu, o
eixo de tudo que roda ao redor da criação de um mundo que só tem de ser
único. Não é grandeza, que isso é desarmonia: mais pessoas podem ser esse,
basta cada um sentir isso de uma maneira tão intensa que... saiba. Sei de
mim.

Eu ponho as mãos no muro baixo da varanda e me sinto em contato com todas as
coisas, com cada partícula que os homens insistem em chamar de atômicas,
subatômicas, isoladas, fissionadas ou o que lhes convier. Cada uma, ponto a
ponto. Contemplo a minha criação, o "resto de mim" que alimento, como
alimento meu estranho corpo, feito de matéria frágil. Como controlar isso,
não sei, mas o "não saber" - eu sinto - faz também parte do contato. Como
parte, não sou/faço hierarquia, não controlo. Sou deus-parte, e cada linha
do mundo existe para me servir harmoniosamente, e assim como a cada coisa,
assim como a cada ser. É a ordem universal no caos do des-centro.

Quero fazer minha parte para a grande estrutura e, com as mãos na varanda,
envio por elas minha alma. É ali a minha representação, em cada coisa, que
vai, sem distância, sem matéria, só na essência, conforme somente o tempo a
que estamos submetidos e que a tudo deteriora. Minha parte, eu estranho o
orgulho de dizer, não faz nada bom, não constrói nada de mau, nem se mostra
com o clichê do "diferente". Apenas faz. Ao tocar alguém, essa pessoa
entenderá: o que faz é deixar como deveria ter sido no ideal, porque tudo
está em desacordo. Olhe em volta, ainda que não veja esse deus: você entende
o desacordo, de alguma forma, em você. Os poucos que somos assim - por que
poucos? - têm de fazer isso. Uma vontade/imagem curiosa no tal momento,
adquirida desses tempos da Terra, é a de reger como a uma orquestra, com
mãos em movimento ao rearranjo do ser, do conserto da essência. Um concerto
para o conserto, uma frase pueril e não ao gosto dos meticulosos enraizados
em si.

De modo algum se abdica de uma vida. Não quer dizer repensar uma mera
carreira, que "continua". A vida material é tudo o que somos neste mundo, e
não podemos nos entender acima dele. Somos apenas os deuses do mundo.
Entender isso não é de hora, é de essência. Não basta ler, não basta saber,
ou respeitar (com a hipocrisia das gentes incautas), que é uma das
desarmonias. É ter em si, e, em momentos como agora, é encostar em algo caro
(tudo o é, porque tudo é parte; a questão está tão mais na recepção) e
transmitir-se - sem nem saber o que - entre as partes da matéria
constituinte, passando-se ao mundo na esperança da reconstrução passiva, em
um momento bem tranqüilo de deslucidez."

Rodrigo Seabra
:: andre lemos 09:25 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Março 07, 2002 ::
Da Boo,

Decimo sexto andar. A cidade é linda daqui. Tudo parece fugaz, perfeito,
distante. O mar é onde a visão termina. As casas são onde tudo começa. Da
pra ver quando esta chovendo no Rio Vermelho, ou se o trânsito está caótico
na Avenida Garibaldi...de dia, a paisagem parece uma maquete de uma cidade
planejada no caos. O vento assobia no meu ouvido, as vezes mais quieto, as
vezes mais bravo, como se quisesse dizer algo...o amanhecer do dia deixa
escapar o seu azul turquesa e as luzes das casas ainda estao acesas. O
barulho dos automóveis é constante, como o barulho do mar...mas eles se
unem aos barulhos do apartamento...ou das sonoridades, melhor dizer assim.
Portanto não há barulho. São apenas trilhas sonoras do meu cotidiano.

Boo

:: andre lemos 08:55 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Março 04, 2002 ::
Paris

J'ai de nouveau ouvert les vraies fenêtres du vrai monde; dehors les maisons
sont encore présentes, tout m'a l'air dans l'ordre : la pollution, les "merdes de chien"
(là je pense à mon ami Bel), le bruit, etc...
Même Ma "Perua" de voisine est là... C'est vous dire si les choses changent lentement,
je me trompe, elle a bronzè pendant sa semaine annuelle de sports d'hiver (c'est le carnaval local...)
Ils retirent tous leurs costumes gris d'hivers pour se lancer sur les pentes neigeuses dans
des combinaisons de plus en plus high-tech et colorés.
Aujourd'hui, c'est la rentrée ; tout le monde est en gris...

C'est reglé comme du papier à musique.

Je crois que je vais peindre ma fenêtre...


:: francis martinet 09:43 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Fevereiro 28, 2002 ::
O janelas do mundo é um mundo sem janelas.
:: andre lemos 15:25 [+] ::
...
:: Domingo, Fevereiro 24, 2002 ::
Da janela do meu quarto espreito o verão que já se vai e eu aqui dentro sem aproveitá-lo. Preferindo a companhia do meu computador.
:: Ligia Caldeiras 16:06 [+] ::
...
:: Sábado, Fevereiro 23, 2002 ::
Do "904"

Escrevi outro conto sobre a janela do quarto do apartamento onde morei entre janeiro de 2001 e janeiro de 2002.
É a minha contribuição de hoje.

1 a 1

Oito garotas adolescentes jogam futebol na quadra.
Três eletricistas interrompem o serviço para assistir o jogo.
Eu também interrompo meu serviço e vou olhar as garotas na quadra.
Elas não jogam bem. Os passes são desajeitados, carecem de direção. Mas elas se movem com uma sensualidade ingênua, involuntária, e sorriem diante de um chute torto ou um drible mal-sucedido com a candura de nenhum jogador de futebol.
Os eletricistas murmuram entre si, comentam as jogadas e as garotas.
As duas laterais esquerdas dos times rivais são as mais gostosas e têm os cabelos mais bonitos, castanhos, longos e lisos. Cada uma é a melhor jogadora de seu time.
Uma delas marca um gol.
1 a 1.
O jogo melhora.
Os eletricistas agora falam alto, elogiam os dribles e os chutes.
As garotas sorriem, agradecem os elogios.
Os sorrisos das jogadoras sobem nove andares e se chocam contra meu rosto. Meus olhos brilham, semicerrados, em gozo.
Os sorrisos das jogadoras também alcançam os eletricistas. Eles se equilibram nos fios da rede e balançam para os lados, dizendo palavras gentis para elas.
Elas jogam descalças. Os pés pequenos, brancos ou escuros, correm na quadra, cortam o ar limpo, chutam a bola.
A garota mais bonita do jogo se senta no chão, encostada a uma das traves do gol de seu time, pernas abertas, cabelos sobre os seios. Está muito suada, sua roupa se cola à pele.
As outras também páram para descansar. Algumas se sentam no chão. Calçam os sapatos.
O jogo acaba.
Elas vão embora.
Os eletricistas vão embora.
Volto ao trabalho.

wcaze@hotmail.com
:: Wladimir Caz? 02:51 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Fevereiro 14, 2002 ::
Da minha janela não vejo trios-elétricos,
and "the sea will electrocute us all" (Radiohead).

:: andre lemos 15:25 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Fevereiro 07, 2002 ::
Sen-ryu Pré-Carnaval
em 07.02.02

Me pego observando,
Da janela do ônibus,
Que não sei participar
RSF
:: Rodolfo Filho 03:17 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Fevereiro 06, 2002 ::
lá, do lado de fora da janela, não vejo nada.
do lado de dentro só expectativas,
de expectativas enche-se a janela.
mas a janela, vazia, esvazia o meu olhar.
a pior cegueira não é aquela que não vê,
mas a que vê tudo com o mesmo olhar.
não vejo nada da janela.
:: andre lemos 11:10 [+] ::
...
:: Domingo, Fevereiro 03, 2002 ::
Paris le 03/02/2002

Ces jours-ci j'ouvre ma fenêtre, ce que je vois c'est : Porto Allegre ou se déroule le forum social mondial. C'est sûrement la
que vous trouverez une partie des bases de notre société pour le siecle en cours...

francis m


:: francis martinet 13:35 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Janeiro 30, 2002 ::
Minha janela precisa de ajuda:
a cada chuva ele afirma que vai pular de mim.
RSF
:: Rodolfo Filho 18:30 [+] ::
...
:: Domingo, Janeiro 13, 2002 ::
Da janela do buzú via os alagados. Como pode tanta beleza conviver com tanta miséria? E ao meu lado uma mulher, de testa generosa e boca cheia de dentes cariados. Além de dentes cariados, saíam daquela boca palavras muito sábias, de quem lê muito, apesar das condições materiais não serem tão encorajadoras. Pois é, ganhei minha viagem ao subúrbio, na companhia daquela mulher de dentes cariados, mas que sabia muito bem brigar pelos seus direitos de cidadã do mundo, e tinha a noção exata do alcance do direito do seu semelhante. Ainda resta uma esperança...

:: Ligia Caldeiras 12:09 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Janeiro 09, 2002 ::
Da minha janela de trabalho a torre de televisão convive com prédios e com resquícios de mata atlântica. O sol está forte depois de tanta chuva...
"na tv diz que vai fazer sol, não sei se é bom, ou é pior" (Wander Wildner)...

:: andre lemos 11:22 [+] ::
...
:: Sábado, Janeiro 05, 2002 ::
Já ocorreu a alguém que as janelas são literalmente "pontos de vista"????
:: Marina Brisa 22:33 [+] ::
...
Da janela do carro eu fui acompanhando a paisagem urbana se transformar em mato, em pasto, em verde. Fiz hoje uma visita a uma cidadezinha muito próxima, estava um tempo úmido e quente, depois de vários dias de chuva o sol resolveu aparecer. Fomos devagar, a estrada estava um pouco suja, o rio que margeava o caminho estava turvo, com cheiro ruim. É estranho porque a chuva, que deveria ter lavado a cidade, acabou deixando um rastro feio. Bom, se eu fosse Polliana, ficaria feliz da vida por ao menos ter podido mudar de janela. Ainda bem que eu não sou, né?
:: Marina Brisa 22:28 [+] ::
...
:: Sexta-feira, Janeiro 04, 2002 ::
Do "904"

10

O pedreiro leva mais uma parede.
A janela da pessoa que vai alugar o apartamento depois de mim se inaugura.
Os capítulos encontram as notas.
Página lida.
Isto é internete.
O globo tem conteúdo.
O conteúdo é duplo.
O sítio é direto.
Deixo a cópia.
O universo não se copia.
Tu espia o palpite.
Primeiro o grafite.
Depois pichação.
Depois a foto.
É assim que é.
Preparo a mudança para o 304.
Quarto crescente.
Os três dividem o barato.
9, 0 e 4 são números na memória.
Malho a Rua do Rosário. A do Salete não presta mais.
Trago a via.
ACM, Papai Noel e McDonald's me recebem.
Saudades do boi.
O clique cancela o olho.
A janela em boa ora.
Belisco a tela nova.
Rasgo a teia.
O fim não chega.

wcaze@hotmail.com
:: Wladimir Caz? 12:17 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Janeiro 03, 2002 ::
A janela do meu quarto dá para um jardim desfeito, dos fundos de uma floricultura falida. É triste pensar na hipótese de o dono vender o terreno para alguma construtora e minha janela acabar dando para outra... Pelo menos quando chove eu ainda sinto um cheirinho de terra molhada... É um oásis único no quarteirão, perto de uma das principais avenidas da cidade. Da minha janela eu também ouço carros, especialmente os freios, de madrugada. E muitas ambulâncias, de madrugada também. Talvez o problema não seja a janela, mas quem vê por ela!

:: Marina Brisa 17:32 [+] ::
...

:: andre lemos 12:04 [+] ::
...
:: Terça-feira, Janeiro 01, 2002 ::
Do "904"

9

Fogos de artifício em cima do Terreiro de Jesus.
Rodo o www.periscopiovr.com
Coqueiros no pé.
Lata de lixo.
Detrito.
Buenos Aires em transe.
Porta. Varanda. Vitrine.
A vidraça se estilhaça.
Alunos.
Usam faróis.
Comemoram.
Colírio é vacina.
Pisco no escuro.
Uma câmera do Rio de Janeiro (http://oglobo.globo.com/capa/inc/links.asp?mat=http://transito.rio.rj.gov.br/index2.htm) me deixa na esquina da Barata Ribeiro com a Duvivier, ao norte de Copacabana e a poucos metros da praça do Lido.
Minuto a nota.
Foto do túnel.
Estou lá.
Frequento Bagdá.
Bato até.
Trato.
Você tapeia.
Deve ter teatro perto.
Te praia.
Força areia.
Sá TV.
Aqui é Salvador.
Do lado de cá da tela, as janelas começam a sumir na caixa.
Faixa Creta.
Faz careta.
O touro é bom.
O tom é outro.
Umas atrás, elas desaparecem.
O sono desce.
Grato grito.
Taí escrito.

wcaze@hotmail.com
:: Wladimir Caz? 16:09 [+] ::
...
Acordei e o ano novo estava lá, na minha janela. Apesar de nublado. Não o ano novo, mas o céu. Um calor infernal. Luiz Melodia e Zezé Motta cantam na sala. Vou aumentar o volume do som. Pronto. Aumentei. Agora cantam mais perto de mim. A música foi e sempre será alimento para minha alma e para o meu corpo.
Eu quero muito mais que o simples despertar e correr pra casa, como se demorar mais um pouco, signifique ter uma urticária danada. Quero olhares cúmplices, quero o verdadeiro prazer, quero querer. Está rareando cada vez mais este querer. Sim, dissipando-se. Esvaindo-se. Deixa ir no dicionário para ver quais adjetivos mais posso usar. Pronto. Aqui...deixa ver: espalhando-se, desfazendo-se, desaparecendo, dispersando-se.
A solidão no momento é deliciosa. Melhor que solidão a dois. Esta, tanto faz o quente, tanto faz o frio, será sempre INSUPORTÁVEL.
ligiac@compos.com.br
:: Ligia Caldeiras 10:45 [+] ::
...
:: Sábado, Dezembro 29, 2001 ::
Acordo com o cantar dos pássaros. Eles cantam, cantam e cantam. Psiu! Espere! Tá ouvindo? Pois é, todos os dias é assim. Só hoje me dei conta disso. Eu acordo com os pássaros cantando em frente à minha janela! E não moro num condomínio fechado, em frente ao mar, muito menos numa fazenda. É o Rio Vermelho que me presenteia assim. Simplesmente o meu Rio Vermelho querido. O azul se mistura com o rosa, com o verde, com o preto. O rosa é da livraria. Você já esteve em alguma livraria rosa? Já cheirou alguma livraria? Nenhuma? Nem mesmo uma livraria rosa? Você nunca cheirou uma rosa? Tem cheiro de saber, de descobrir, de conscientizar, de amar, de sofrer, a minha vizinha, a livraria rosa. Tem cheiro de incenso, a livraria, além de ser rosa. Ah, a sensação olfativa que me dá a livraria rosa. E tem o verde das árvores grandes da livraria rosa. São grandes, mas a gente só as percebe grandes quando venta. Aí o verde das árvores grandes se mistura com o rosa da livraria. E aí levanto os olhos e deparo-me com o azul. Meu Deus, como me seduz, como me engole, como me fortalece aquele lindo céu azul. E finalmente vem o preto, com uma lista amarela no meio. Tapete onde deslizam patins, skates, carros, motos, bicicletas, carrinhos de bebê, o homem do picolé mais gostoso da cidade, e passam também cavalos. E sobe homem e sobe mulher, e desce criança e desce velho. E sobem esperanças e descem desafios. A traição caminha, reflete, pára e recua. A arrogância continua sua jornada subindo e descendo, subindo e descendo. A raiva vai e vem. A bondade caminha tranqüila, calma e serena. A paixão corre! Esta tem pressa! Tem que ser tudo ao mesmo tempo agora. O tesão? Vai e vem, vai e vem, vai e vem... Não pare! Não pare!

Ligiac@compos.com.br
:: Ligia Caldeiras 20:20 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Dezembro 20, 2001 ::
Do "904"

8

A janela tem morte precoce.
O 904 se separa do olho.
Cacos.
O eixo fixo acelera.
As outras janelas também beiram a hora.
A sombra de uma nuvem cobre o estacionamento.
Cinzas caem dos prédios sobre o Politeama.
Há deus Piedade.
Me despeço dos sons.
Saio antes de digitar sobre as outras três janelas.
São três as janelas do 904, além da janela do quarto.
A janela do banheiro se volta para a Direita da Piedade.
A janela da sala se volta para Barra ou Ondina.
A janela da cozinha também.
A janela do quarto ocupa o espaço.
O resto não se esgota.
As ruas se ramificam.
O tatu bole no monitor.
A onda sobe.
A Baía molha a tela.
Borra.
Varo tudo.
Desfaço.
O ano sai.
O cliente de um bar da Rua Alegria dos Barris me enxerga de longe.
Sento no chão da faculdade.
A terra me esconde.
A turma festeja.
A avenida há 7s fora.
Ando no Largo da Vitória.
A Graça enche o coração. Diz a canção.
O bairro é baixo.
Descemos a Tenente Pires Ferreira.
A 11ª.
A ladeira.
O 304.
A outra janela está do outro lado.
O ano que vem vem.
O 904 é uma linha.
O 904 é um quadro.
O 904 é uma letra.
A janela é completa.

wcaze@hotmail.com
:: Wladimir Caz? 21:24 [+] ::
...
Da janela da minha webcam
vejo estradas da Finlândia,
vejo escadas da Turquia
ou luzes de Estocolmo.

Da janela da minha webcam
vejo janelas de webcams
vejo janelas de webcams
vejo webcams na janela.
:: andre lemos 11:18 [+] ::
...
:: Sábado, Dezembro 08, 2001 ::
Sobre Estrelas e Cidades

A estrela mais bonita que vi
estava na frente da Lua,
na frente das nuvens,
no topo de um prédio:
na luz de uma antena.

Por um momento ela foi
cadente
em minhas memórias.
Até que percebi
que não era uma estrela falsa.

Era uma estrela urbana.

(RSF)
:: Rodolfo Filho 00:22 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Dezembro 06, 2001 ::
*

Do "904"

7

A Igreja de São Raimundo fica na Rua de São Raymundo, uma travessa que liga a Rua Direita da Piedade à Avenida Sete.
A Igreja de São Raimundo foi reaberta há poucos dias, depois de anos fechada e meses em obras.
Estou na frente da Igreja de São Raimundo. Daqui posso ver a janela do 904 que me trouxe até este ponto da Rua Direita da Piedade.
A janela me transporta até aqui. A tela do computador transporta você comigo até aqui.
Este é o prodígio que acontece aos nossos olhos.
Entro na Igreja de São Raimundo numa tarde ensolarada de quarta-feira. Devotas organizam uma reza, se revezando na leitura de versos religiosos.
A paz paira.
Pela porta aberta da Igreja, Salvador continua em ação.
Táxi.
Grupo escolar.
Pessoas.
Estou dentro da Igreja, onde a densidade do tempo é maior do que em outros sítios. Estou em Salvador, onde tudo segue, acidentado e quente. Estou na janela do 904, na tela do "janelas do mundo".
Estou na Rua São Raymundo, onde as fachadas homenageiam o santo: uma casa de artigos religiosos e produtos naturais, um edifício residencial e uma delicatessen.
A janela se renova.
Quando voltar ao apartamento e rever a Igreja de São Raimundo de longe, já conhecerei as palavras que completam a inscrição da fachada do prédio, na Rua Direita da Piedade: Templo da adoração perene, 1933, adoremos!.
Na lateral, à direita, na Rua São Raymundo, o chamado se repete, no original: Venite, adoremus!
A fé se faz.
Noto a vitalidade recente da Rua São Raymundo.
O trecho viceja.
Volto à fachada da Igreja e olho a janela do 904. E vejo você, lendo meu pensamento na tela. Agora você não é mais invisível para mim.
Da janela do quarto, você me vê, lá embaixo, parado na Rua Direita da Piedade, na calçada em frente à Igreja de São Raimundo.
Desconfio que a internet seja uma mandala que enlaça o mundo.
O 904 gira.
O mural lateja.
Beijo a janela.
O dom é presente.
Bebo o líquido da superfície da tela.
Você também bebe.
O tempo some.
Fecho o vidro.

wcaze@hotmail.com

*
:: Wladimir Caz? 17:35 [+] ::
...
Em menos de um mês estarei mudando de janela. Ainda não sei como é a casa nova, mas espero que tenha, pelo menos, uma bela janela! vou sentir saudades da antiga, estou tirando muitas fotos para guardar de lembrança.
Ano novo, novos olhares, novas possibilidades.
:: Ludmila Carvalho 11:47 [+] ::
...
:: Sábado, Dezembro 01, 2001 ::
Olhos nela

Sim, as janelas permitem visões maravilhosas.... e as vezes encontros de olhares também.
:: C. 02:35 [+] ::
...
:: Terça-feira, Novembro 20, 2001 ::
Windows

As janelas voam pelo computador
e o seu correr no ecrã
luminoso
corta a palavra aos profetas

Profetas parados no computador
à espera do meu dedo
para recomeçarem
a fala de deus

Do deus
que segundo eles
não quer
que eu mexa
um dedo

Tenho a preguiça de um deus
computadorizado
e que não quer a fala
dos profetas

Mas as janelas voam, voam, voam
e deus entra por elas.

Armando Silva Carvalo, Lisboas, ed. Quetzal, Lisboa 2000
:: andre lemos 14:12 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Novembro 12, 2001 ::
Cansado de ver a nova tragédia americana, busco refresco na minha janela. Olho a esquerda e a parabólica me faz retornar ao fluxo global da informação...



O céu azul não deixa ver o fluxo dos satélites, como se nada lá houvesse, como se fosse a magia da comunicação. Como dizia A. Clarke , "Any sufficiently advanced technology is indistinguishable from magic".
:: andre lemos 18:48 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Novembro 08, 2001 ::
da minha janela, um céu digno de noites no capão. a lua aparece depois de um certo suspense. as estrelas, em profusão, dão o ar da graça.
:: Irene Kalil 01:06 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Novembro 05, 2001 ::

Do "904"

6

Há dias venho observando o trabalho dos pintores no casarão amarelo da Rua Direita da Piedade.
Agora Igreja de São Raimundo está escrito na fachada do prédio.
A mão do pintor cercou a janela central do andar térreo de mais algumas palavras, ilegíveis a esta distância. Por mais que eu apure o olhar e tente distinguir letras, sílabas e palavras, não as enxergo definidas, porque estão escritas em caracteres menores do que os de Igreja de São Raimundo. Percebo que há uma data, o número de um ano, mas os algarismos e as letras se embaralham e se apagam uns aos outros.
Para saber o que está escrito embaixo de Igreja de São Raimundo terei que sair da janela e do apartamento, descer as escadas e andar pelas ruas General Labatut e do Salete até a frente do casarão.
Nisso residem as ruínas deste momento.
A janela está momentaneamente morta.
A mancha indefinida que eu tinha visto e, depois, identificado como a preposição de - na inscrição Igreja de São Raimundo - se espalhou pela fachada do casarão amarelo. A mancha saltou do espaço entre a palavra Igreja e a palavra São e caiu sobre o bairro e os edifícios que a vista alcança daqui de cima.
A mancha contaminou a paisagem de uma indefinição que me perturba. Até perceber que a janela é habitada não só por palavras legíveis, mas também por palavras que, mesmo reconhecíveis como tais, são ilegíveis por causa da distância, eu costumava acreditar que a janela era uma superfície transparente, uma tela que exibia uma imagem confiável do mundo.
As palavras que eu via pela janela tomavam conta da paisagem.
Agora elas se ocultam e a dúvida paira sobre tudo.
A janela se parte.
Atrás das rachaduras pode estar o mundo ou o vazio.
A janela desaba.
Mas sua queda tem o encanto das possibilidades inesgotadas que as dúvidas instauram.
Há um milagre na janela. É um milagre menor, porque depende do que está fora da janela e não do que ela expõe ao primeiro relance. Mas é um milagre.
As palavras ilegíveis escondem uma promessa.
A janela contém o que ela não é.
Ainda preciso saber o que significa pensar que a janela se esconde em palavras posicionadas a uma distância inacessível ao olhar do meu nono andar.
Será preciso relacionar as palavras reais - aquelas que estão escritas na fachada do casarão amarelo debaixo de Igreja de São Raimundo - com a paisagem da janela. Também será preciso relacionar a data a tudo isso.
Minhas investigações tomam um novo rumo.
Amanhã ou depois irei, precisarei ir, até a Rua Direita da Piedade ler o que está escrito embaixo de Igreja de São Raimundo.

wcaze@hotmail.com

:: Wladimir Caz? 21:58 [+] ::
...
:: Domingo, Novembro 04, 2001 ::
Janelas lusitanas não me enganam, não cedo a sua sedução...pego minha espada e espero o aparecimento do dragão...é plena lua e consigo ver um pouco da fumaça da sua narina exilada. Mas ele se nega a lutar...e fico como um imbecil com a espada na mão.

Janelas lusitanas não me enganam, a vida continua hesitante, feliz pela sorte e infeliz pela impossibilidade de fazer como quase todos os outros...ah essa diferença indeferenciada insuportável, esse corpo imbecil, essa alegrias egóicas e nem tão pouco heróicas...fuck the heros!!!

Janelas lusitanas não me enganam, não impedem as lágrimas da solidão, nem tampouco aquelas da alegria histérica, não limpam o caminho para a pressa inacabada, nao extirpam a pressa dos que não têm caminho...

As janelas não fazem nada, a não ser me mostrar que lá fora não encontro o que há por dentro, e que por dentro nunca vou ver o lá fora. As janelas não existem, são transparências e transparentes ao mundo, limite e ilimitabilidade do nada


(Lisboa, outono)

As janelas me enganam!


:: andre lemos 23:40 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Novembro 01, 2001 ::
Quarta 14:00 hrs

No 9 andar estou sentado prestes a fazer uma prova para Seleção do Mestrado em Sociologia na UFPR, são 40 candidatos para vinte vagas, apreensivo olho pela janela e encontro a Serra do Mar ao redor de Curitiba. Que maravilha! A naturereza é muito linda!
:: C. 01:42 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Outubro 31, 2001 ::
Paris

Nous sommes fin octobre, les feuilles jaunissent, Paris a profité d'un véritable été indien c'est tres "cool".
La "perua" qui habite en face,devant ma fenêtre, utilise encore ses lunettes de soleil, c'est vous dire...
Mais en fait non, même quand il fait ce gris sombre bien parisien, elle utilise ses lunettes de soleil.
Elle doit cacher quelque chose, c'est sûr. il va faloir découvrir depuis ma fenêtre ce qu'elle desire ne
pas montrer.

Peut-être qu'elle est tres laide, ou bien qu'elle a des yeux de crapaud, qui sait?

francis m


:: francis martinet 15:15 [+] ::
...
:: Domingo, Outubro 28, 2001 ::
horizontes

O prédio amarelo onde minha namorada mora tem dois andares, é antigo, contruido talvez anos 50 do século passado. A rua é tranquila apesar de estarmos no coração da cidade, silêncio, fim de sábado de sol, o vento entra mansamente pela janela agitando as cortinas brancas, passeando pelo apartamento troca os lugares das folhas soltas sobre a mesa, folheia um livro e sai.

A sala volta a ficar quieta novamente, quando volto para a mesa encontro no livro aberto uma fotografia de uma Curitiba antiga, as ruas nem tinham postes, as casas brancas e pela janela se podia ver a serra do mar.


:: C. 13:50 [+] ::
...
:: Sábado, Outubro 27, 2001 ::
Do "904"

5

Há palavras novas na janela.
Ontem dois pintores cobriram a fachada de um casarão da Rua Direita da Piedade com a palavra Igreja.
O casarão, amarelo, tem janelas verdes e dois andares. Igreja foi escrita no espaço entre a fileira de janelas do térreo e a fileira de janelas do primeiro andar.
Depois, a poucos centímetros da letra A, a mão de um dos pintores desenhou uma mancha indefinida, menor do que uma das letras de Igreja.
A mancha se transformou na preposição de.
Igreja de.
Fui almoçar imaginando alguns complementos possíveis para aquele texto inacabado.
Quando voltei à janela, mais uma palavra se juntara às outras.
São.
Igreja de São.
Anoiteceu e os pintores foram embora. Agora o casarão é Igreja de São.
Enquanto os pintores não voltarem ao trabalho, Igreja de São continuará a ser um texto infinito.
Igreja de São Gonçalo.
Igreja de São João.
Igreja de São Pedro.
Igreja de São Sebastião.
Pensar que aquele é o casarão de todos os santos me faz sentir pelo prédio uma simpatia que não terei amanhã ou depois, quando um santo qualquer batizar a fachada.
Neste momento, o texto da cidade tem para mim uma eternidade que beira o místico. O texto da cidade é o universo, tela capaz de acolher um número inesgotável de variantes.
A palavra que não está escrita multiplica o universo pelo número de palavras que podem ser escritas.
O dia amanhece.
Um dos pintores aparece e dá início à parte final do trabalho.
Em pouco tempo, Igreja de São terá um nome e uma história e a janela para o intangível será fechada.
Quero cantar os minutos que restam até a janela do meu quarto perder o encantamento da dúvida.
Sei que não serei capaz de impedir esta perda. Minha mão não se erguerá para interromper a conclusão da obra.
Sei também que o tempo vai continuar passando, até o casarão ganhar o nome de seu patrono.
Aceito a fatalidade com resignação.
Penso em como seria bom ter uma fórmula mágica que, ao ser pronunciada, provocasse o aparecimento de novas palavras na paisagem urbana da janela do meu quarto.
Com essa fórmula mágica, eu povoaria a minha vista com palavras sonoras, de significado incerto (atributo de todas as palavras, exceto os nomes próprios).
Mas não tenho tal fórmula mágica.
Deixo o pintor pintando e vou dormir. Logo saberei que casarão é aquele.

wcaze@hotmail.com
:: Wladimir Caz? 21:45 [+] ::
...
:: Sexta-feira, Outubro 26, 2001 ::
Fim de noite com céu claro em Berlim.
A cidade toda, daqui do alto da janela da sala de computadores da faculdade, um arranha-céu solitário no fim do eixo central da cidade (um pouco como o corredor central do plano piloto de Brasília), sexta-feira, 21h, longe as luzes formam uma imensa legolândia, com seus trenzinhos de brinquedo, seus prediozinhos luminosos, seus parquinhos, suas anteninhas iluminadas, e o balé dos carrinhos em busca da balada.
E aqui vou eu também, atravessar essas avenidas todas de bicicleta enquanto o vento da Sibéria näo chega pra valer, atrás de um fast food qualquer e depois um certo bar no antigo lado comunista da cidade, tomar umas cervejas, quem sabe alguma festa que uma ciclana amiga de fulana diz que é legal, a ver.


:: Marcelo Xuxu 17:40 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Outubro 25, 2001 ::
Momentos

Acordo com a luz que invade pela janela e ilumina o meu quarto, na rua são poucas pessoas.
Almoço, ouço o barulho da ambulância que passa rapidamente, na rua centenas de destinos.
Inicio da noite, o comercio fechando, muitos correndo na calcadas e no asfalto.
A Madrugada desperta com o grito de um bebado e seus passos tortos.


:: C. 03:59 [+] ::
...
:: Terça-feira, Outubro 23, 2001 ::
Do "904"

4

Para minha surpresa, o viaduto entre a Rua Direita da Piedade e o Politeama acaba de ser visitado por uma nova palavra. A palavra Transvas, escrita em grandes letras sem serifa no lado de um caminhão de pequeno porte, corta a tarde e quase me pega desprevenido.
Sigo o percurso do caminhão durante alguns segundos. Ele surge
por trás de um prédio no meio do viaduto e desaparece atrás de outro
prédio, metros adiante. A palavra Transvas viaja, vai, atravessa o janela.
Transvas cruza a paisagem.
Trans. Vas. Agora atravessa a tela. Você vê.
Imagino viajar no caminhão, ao lado de Transvas. As letras me põem
em transe, com elas corro léguas.
Intro bus. Ondina.
Imagino pegar um ônibus para qualquer parte de Salvador. Viajar ao lado dos nomes das empresas. Mergulhar na malha urbana. Me misturar à paisagem.
Agora sou uma letra em movimento vista de uma janela à distância.
As teclas me levam.

wcaze@hotmail.com
:: Wladimir Caz? 18:40 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Outubro 18, 2001 ::
Da pequena janela do banheiro vejo duas falsas margaridas, amarelas de tão lindas, separadas, cada uma em sua garrafa de Schweppes sem rótulo.



Em segundo plano, restos angulosos de um edifício...céu invisível. E eu grito, assustando as margaridas: "André n'est pas là".
:: andre lemos 19:55 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Outubro 17, 2001 ::
Hai-kai na janela I

Da minha janela
Não vejo quase que nada:
Cortina fechada (RSF)
:: Rodolfo Filho 05:11 [+] ::
...
:: Quarta-feira, Outubro 10, 2001 ::
Do "904"

3

Edição extraordinária.

Acabo de encontrar a quarta bandeira brasileira na paisagem urbana da janela do meu quarto.
(A ocasião pede um concerto barroco para trompete e orquestra. Júbilo.)
A bandeira brasileira recém-descoberta fica defronte ao shopping Lapa. Eu só não a tinha visto ainda porque os galhos de uma árvore a cobrem parcialmente.
Agora ela não é mais invisível para mim: vejo-a com clareza tremular ao vento, ladeando a bandeira da Bahia.
Ela também não é mais invisível para você.
Defronte ao Gabinete Português de Leitura, uma bandeira igual (verde e amarela) se coloca entre as bandeiras da Bahia (vermelha, azul e branca) e de Portugal (vermelha e verde). Defronte ao shopping Piedade, há uma outra bandeira brasileira, entre as bandeiras da Bahia e do próprio
shopping (branca, com um coração retorcido em vermelho).
Traço uma linha reta imaginária entre as três bandeiras brasileiras alinhadas ao longo da Rua Junqueira Ayres, sucedendo-se uma a uma - defronte aos shoppings Piedade e Lapa e defronte ao Gabinete Português de Leitura.
Fora dessa linha reta, isolada no alto de um mastro, num endereço que ainda não identifiquei, está a única bandeira brasileira, dentre todas as quatro, que não divide sua posição com uma bandeira diferente.
A descoberta da quarta bandeira me anima a imaginação.
Já quando eu via apenas três bandeiras brasileiras na paisagem da janela do meu quarto, desconfiava da existência de uma quarta bandeira nas redondezas. Hoje, as minhas suspeitas se
confirmaram.
Agora, arrisco supor a existência de uma quinta bandeira nos arredores. Acredito que encontrarei a quinta bandeira, se procurar por ela.
A copa do mundo de futebol, em 2002, garante a veracidade parcial desta especulação.
Antes de concluir, uma nota. Ainda não comecei a explorar as outras três janelas do apartamento. É impossível antecipar a reserva de possibilidades que esses três universos paralelos ainda virgens podem oferecer. Só a observação paciente irá revelar o que nelas há.
Mais sobre as bandeiras brasileiras na minha transmissão da madrugada de 11 de setembro.

wcaze@hotmail.com
:: Wladimir Caz? 17:34 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Outubro 08, 2001 ::
Da janela de um hotel qualquer em Belo Horizonte descortina-se uma grande cordilheira a minha frente. Posso vê-la dessa janela já que diante de mim só há casas, e um pouco mais ao longo prédios, que mesmo na imponência de suas construções não conseguem desviar minha visão.

O sol cai e a tonalidade azul do céu vai aos pouco cedendo espaço ao cinza da noite...luzes aparecendo ao longe encrustradas no paredão rochoso...
:: andre lemos 09:30 [+] ::
...
:: Terça-feira, Outubro 02, 2001 ::
Olha o gato na janela

Chove muito em Curitiba, moro no quarto andar de um prédio no centro da cidade, ouço o barulho da chuva se jogando contra a janela de vidro... hoje tenho uma cortina de água.

Começo de noite, abro a janela, a chuva está fraca quase parando... vou comprar pão para um café. Na volta, na rua... olho para a janela, o bug esta lá... putz ele vai cai! (já caiu antes) entro no apê correndo e sem estabanação para não assustar o gato com as patas dianteiras para o lado de fora da janela olhando o chuvisco, todo faceiro e sem noção de perigo.

Saiu da janela com a elegancia felina e foi comer a sua ração, fui para a janela e a fechei, voltava a chover forte... é bom olhar a chuva!
:: C. 03:12 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Outubro 01, 2001 ::
E do avião, na pequena janela-escotilha, a grande paulicéia vai ficando pequena, como um terreno apinhado de destroços. As nuvens vão deixando turva a visão, descortinando um céu azul indiferente aos cruzamentos de lá de baixo...

O cinza da esfera estufada poluída que vejo das alturas fica prá trás, impregnando no meu corpo a sensação de peso, do estômago colado no chão...velocidade, altura, pressão. Janelas se deslocando no tempo e no espaço...e meu corpo preso ao cinto, soltando as amarras e lutando contra a gravidade, sacodindo e alertando a alma para o vôo nas alturas.

olhos fechados...

Da janela do avião lembranças das janelas do Balcão e do Mestiço, das janelas dos inúmeros táxis, das janelas do quarto fechado de hotel, da janela do carro flanando pelas ruas sempre cheias dessa cidade que nunca dorme...

Agora eu durmo.

Fecho a janela escotilha, me fecho pro mundo e espero ver, em poucas horas, dessa mesma janela, minha casa lá embaixo... quase ouvindo a música:

"transport, motorways and tramlines, starting and then stopping, taking off and landing...the emptiest of feelings. sentimental drivel. clinging onto bottles. when it comes it's so so. disappointing let down and hanging around. crushed like a bug in the ground." (Radiohead, Ok Computer., Let Down).
:: andre lemos 21:49 [+] ::
...
:: Quinta-feira, Setembro 27, 2001 ::
Além da minha janela tem o centro de Berlim, e atrás dele uma garoa chata, sem trégua, de fim de veräo. Säo 23h15min e melhor é deixar a memória dos dias passados falar.

Lisboa, ou o afeto antes da praticidade

Antes dos vinte, eu pensava que a vida era algo que continuamente ganhava ímpeto. Que a cada ano se tornaria mais rica e profunda. Você continuaria aprendendo mais, tornando-se mais sábio, tendo mais insights, indo mais além em direcäo à verdade-„ ela hesitou.

Port riu abruptamente. „E agora você sabe que näo é assim. Certo? É mais como fumar um cigarro. Nas poucas primeiras baforadas o gosto é maravilhoso e você nem sequer pensa nele como algo usado. Entäo você comeca a achar que aquilo sempre será assim. De repente você percebe que já está quase tudo queimado até o fim. E entäo você se dá conta do gosto amargo.“
(Paul Bowles – The Sheltering Sky)

O tombadilho da Torre de Belém moveu-se sob meus pés, eram catorze ou quinze horas do dia 11 de setembro de 2001, e eu envolto no encanto daquela caravela de pedras brancas, metade ancorada no chäo de Lisboa, metade adentrando o rio Tejo, rumo ao Atlântico Sul. Nada de original, apenas mais um brazuca visitando pela primeira vez sua pátria-avó, agarrando àquela sacada florentina, às cruzes de malta recortadas contra o horizonte azul, à escultura de Nossa Senhora, a tudo enfim que ali dava a mais essa alma errante uma ilusäo de casa, um conforto em meio a mais uma entre tantas outras travessias.

A ilusäo de casa me deu o Ricardo, velho amigo. No dia do meu aniversário fez uma festa no simpático apartamento dele (recheado de „fun-tásticos“ ítens da decoracäo doméstica popular portuguesa, devidamente escondidos nos armários) e convidou umas vinte pessoas, e me deu entre outros presentes um „carimbo digital portugês“, um azulejo florido com a letra X, segundo ele pra eu melhor assinar meus mails. Também tinha na mesma tarde tomado o primeiro banho de mar em ano e meio (delícia de praias tem a Costa da Caparica, uns 20min do outro lado do Tejo) e pra coroar tinha visto pela primeira vez o sol se por no Atlântico. Inesquecível. Lindas também as falésias no litoral do Algarve. Muito sol, muito peito de fora, muito peixe, muita farra em português, maravilha. Que bela vida tem o Ricardo, trabalhando e estudando com gente täo interessante numa ilha tecnológica portuguesa. Sem trocadilhos, por favor.

E depois tive sete dias e sete noites sete morros acima e sete morros abaixo, que sete säo os montes de Lisboa, em lombo de bondinho antediluviano. Eu juro que os bondes de Porto Alegre eram iguais por dentro e por fora, apenas a cabine do condutor era no nosso ainda mais primitiva. Um charme e além disso o trajeto da Linha 28 é talvez o mais bonito passeio que o transporte público europeu pode oferecer. E como toda cidade fica pra lá ou pra cá dos morros, adorei também ver de uns cinco ou seis miradores a noite tingir os tetos da cidade. Num deles, com os olhos marejados, desejei um dia poder mostrar a minha mäe e a meu pai a beleza que é um fim de tarde em Lisboa.

Alfama, Rossio, Baixa, Chiado e Alto são cinco bairros encantados e neles eu poderia passear meses, sem descobrir tudo. Näo säo täo antigos, conservados ou grandiosos como outros da Europa. Mas ocupam uma área cinco ou seis vezes maior que a de qualquer centro histórico famoso, que o de Praga, por exemplo. E os bairros modernos ou comerciais, por mais que o bom gosto antigo tenha faltado, têm no mínimo o charme das ruas tradicionais do Rio, com vantagens em seguranca e limpeza.

Adorei as ruas de Lisboa, mais que seus museus, castelos e mosteiros ou Sintra, com tudo que com certeza têm de interessante.

A cidade tem um charme ingênuo, quase feminino. Estacäo do Arco do Cego, Rua da Horta Seca, Calcada Nova do Colégio, Travessa da Boa Hora, Beco do Sapateiro... tantos nomezinhos despretensiosos, simpáticos, quase ridículos, näo fosse o respeito pela história que eles mantém. E mesmo em coisas modernas, vence o afeto sobre a praticidade: Gaivota, Girassol, Caravela e Oriente säo os nomes da quatro linha do metrô. No número 30 da Avenida Duque de Ávila vi duas Atlas femininas sustentando uma sacada barroca! Já tinha visto muito busto feminino adornando fachada de prédio, mas acho que nunca tinha visto uma figura de mulher em concreto armado tomando a si a tarefa de Atlas, de sustentar nos ombros o peso do mundo.

É mais fácil com uma mäo dez estrelas agarrar,
Fazer o sol esfriar,
Reduzir o mundo a grude,
Mas ginja com tal virtude
É difícil de encontrar

---

É a ama de um reverendo,
Que é das bandas da Barquinha,
Tem um aspecto tremendo,
Bebe aos litros de ginjinha.

Publicidade do licor de cereja, espinheira ou ginjinha, especialidade baratérrima vendida há décadas no Largo de Domingos. De beber aos litros mesmo.

Achei os portugas legais e educados, tirados pouquíssimos casos normais. Em todo caso, os brasileiros säo preferidos pelo comércio e hotelaria, pela gentileza. Vi muito brazuca. O tempo todo. Os poucos com quem conversei reclamavam as saudades habituais e um certo racismo. Mas os negros de Lisboa me pareceram levar uma vida melhor que os de Porto Alegre e os subúrbios onde eles moram também säo melhores.

Gostei sobretudo do pouco de bagunca, do calor, do improviso, da lógica tortuosa.

Tem a Estacäo de Metrô do Rossio e tem a Estacäo de Trens do Rossio. E uma näo é do lado da outra! Pra pegar um trem de longa distância, é melhor descer na estacäo de metrô Restauradores, que fica quase dentro da estacäo de trens do Rossio...

Outra bem lusa: as filas de táxi nas praias do litoral duram pelo menos meia hora. Sempre tem uns dez turistas velhinhos ingleses ou holandeses, com a carteira cheia de generosidades, esperando naquele sol terrível até pra nós brazucas. E nada de se ver um táxi, cheio ou vazio. Quando conseguimos um, perguntamos ao motorista por que faltavam táxis e ele respondeu que alguns colegas estavam de férias, mas que no outono, inverno e primavera sobravam táxis... Levando em conta que a regiäo vive é do turismo de veräo e que nos outros nove meses näo tem nada pra se fazer lá, é mesmo muito burro. (Contei isso a um amigo alemäo, e ele disse que teve experiências semelhantes na Bahia e em Santa Catarina. Pois é, näo deixa de ser burrice.)

„Eu näo sei o que vai acontecer com as bolsas, eu näo sei o impacto que isso vai ter sobre o transporte internacional, eu näo sei de que forma isso vai atingir o processo de globalizacäo, eu näo sei o que isso vai significar em custos de seguranca (...)“ Pincei esse comentário de um comentarista de tv português sobre os ataques terroristas aos Estados Unidos e näo consegui imaginar quem, com mil demônios, liga a televisäo num programa de notícias pra ouvir o que um jornalista NÄO sabe...

O uso que os portugueses fazem da língua, e nisso eu tinha alguma expectativa, me pareceu menos interessante. Uma vez que a gente, nascida nessa língua, se deu ao trabalho de ter tantas irregularidades e tempos verbais täo complexos, pra que diabos isso de usar sempre o infinitivo? Fico eu a pensar: vai fazer o povo esquecer como se flexionam os verbos, ó pá. Além de terminar tudo em erre, feito rima pobre.
Desenvolveu-se mais a comunicacäo e o discurso no Brasil. Em qualquer mídia de massa os brasileiros säo melhor seduzidos ou informados, e em qualquer mídia os brasileiros säo mais difíceis de seduzir e mais exigentes com a forma de se informar. Mas nem por isso a lógica brazuca é menos tortuosa. Falo de prática. Na forma de dizer a presentar as coisas somos muito bons, mas temos em geral o mau hábito de näo concretizar nossas promessas.

Os portugas têm um senso agudo de justica social e se a terra näo chama atencäo pelos neons do progresso comercial, também näo tem miseráveis e pedintes à vista, muito menos ladröes como tem, por exemplo, Madrid – que é mais rica e anseia por mais e mais neons e shopping centers.

Já no aeroporto se tem um resumo das diferencas entre lusos e brasileiros. Faltavam ladrilhos na chäo, e o remendo era de concreto nu. Os aparelhos dos banheiros eram antigos e precisavam de turnos de limpeza mais freqüentes. Isso tudo no Brasil é impensável: por onde a elite anda, a infra-estrutura tem que ser de qualidade internacional. Entretanto, onde o povo anda, nossa infra é em geral sofrível, ao passo que a deles está um passo à frente.

Eles vivem muito bem, têm muita praia, muito sol, muito bacalhau com olivas e sabem o valor que isso tudo tem. Se esse contentamento soa provinciano, a despretensäo do povo em geral e esse saber viver däo uma cor especial ao lugar, sobretudo quando a gente está sentado lá e näo apenas lendo ou lembrando isso tudo. A pequena elite lusitana atrapalha um pouco esse sentimento e trai uma certa inseguranca que eles em geral têm com o fato de terem ficado longo tempo de fora do progresso material da Europa Ocidental.

E mesmo que o Parque das Nacöes, construído para a Expo 98, tenha sido planejado e financiado com ajuda da Uniäo Européia, eles têm razäo pra serem otimistas. A Estacäo Oriente, de trens e ônibus, o shopping (sempre ele) e a ponte Vasco da Gama (quase uma Rio-Niterói em extensäo, porém mais bonita, ambos do espanhol Santiago Calatrava), o Pavilhäo Atlântico, o Oceanário, tudo enfim é modernérrimo e cheio de jovens casais ao beijos – à beira do Tejo, onde o rio é muito largo, o lugar além de bonito exala otimismo e mesmo um sentimento de fé no futuro. A cereja do bolo é o teleférico, que permite observar tudo do alto e em velocidade. Bem pensado: o movimento é essencial pra se observar a arquitetura moderna e muito crítico mau-humorado esquece disso. (O Parque me fez também dar outro valor ao Memorial da América Latina em Sampa, todo financiado e construído por brazucas.) Um único senäo: o teatro que leva o nome de Camöes devia ter tracos mais inventivos.

O Oceanário foi pra mim a maior atracäo indoors de Lisboa e merece um elogio à parte. Uma imensa piscina cúbica em cujo centro vivem as espécies que habitam o mar aberto (incluindo um enorme tubaräo branco, aquele que tem na boca três fileiras de dentes tortos). Nos cantos, vivem espécies próprias dos mares Antártico (pinguins, lobos marinhos), Australiano (peixes venenosos dos corais e ostraceiros), Índico (enguias e tubaröes) e Atlântico. Näo há paredes dividindo esses ambientes específicos e teoricamente os animais poderiam passear de um pra outro. Näo fazem isso devido à diferenca de temperatura e salinidade das águas e aí está o grande truque que os portugueses conseguiram. Paredes de acrílico ovaladas nos däo a sensacäo de entrar aquário adentro. Estímulos sonoros muito bem planejados completam a ilusäo, que se estende por dois andares e inúmeras janelas e microclimas. Säo duas horas de puro encanto.

Todo mundo que näo havia falado comigo desde 11 de setembro, quando o tombadilho da Torre de Belém mexeu sob meus pés, pergunta o que eu tenho a dizer sobre o ataque terrorista aos EUA.

Como todo mundo, quando soube, também experimentei a sensacäo estranha de ver as pessoas na minha volta, turistas americanos que olhavam as conquistas portuguesas na Rosa dos Ventos em frente ao monumento aos descobrimentos, pessoas que voltavam pra casa, ainda a salvo em suas inocências, pensando apenas em seus problemas ou prazeres imediatos. E em respeito a essa sagrada inocência freei aquela vontade, que acho que todo mundo experimentou, de „acordá-los“ pra realidade de um mundo que hoje muda em tempo global e näo local.

„Time is out of joints“, diz Hamlet. O joint de Shakespeare era a dobradica dos dias e noites, e queria dizer que o tempo era no fundo um só. Estamos vivendo de fato isso. Eram 14 ou 15 horas e Lisboa entrava no pessimismo coletivo ao vivo e mesmo o sentimento de religacäo mais duradouro, mais sagrado, desse ateu que aqui escreve, que é ver a tarde trazer a noite, foi inundado por esse pessimismo. Pela primeira vez a contemplacäo do por-do-sol me trouxe a lembranca de um cogumelo atômico.

Quando Bush Júnior comecou, bombardeando o Iraque e logo depois enviando desastrados aviöes para espionar a China, algum comentarista disse que o tom inicial era forte demais, e que subir uma nota pegaria mal no exterior, assim como descer uma nota pegaria mal internamente – exatamente a sinuca de agora. Quem semeia ventos...

Näo vejo as coisas entre cristäos-judeus ou ocidentais contra muculmanos ou árabes. Continuo achando que Marx ilumina melhor tudo isso e que falamos de mais uma face da crise entre ricos e pobres. E costumo ter menos medo dos pobres. Um pouco de paz e päo na mesa e resolvem-se as coisas entre eles. Do outro lado, näo descobri ainda o que saciaria.

E pra encerrar de vez por todas mais essa longa carta, um poema-música de um moderno compositor luso, escrito sobre uma frase (a primeira) de Fernando Pessoa. Está no cd Red, Hot + Lisbon.

A Névoa – Carlos Maria Trindade

Há sempre entre mim e o mundo uma névoa,
que às vezes me ataca e me faz refém
de uma solidäo täo fria, que näo me dá trégua,
guardador de um cofre onde näo há vintém,

Se o corpo desliza em paisagem sombria,
monótona e suja, adversa e vazia
a alma esvoaca bem lá pra cima
mais alta que o sino que da catedral ressoa

Enquanto que a noite vai tingindo o dia
e o último pássaro pro ninho voa,
cruzando com a alma que pra mim regressa
e me anuncia que o longe me traz coisa boa

Sem saber bem o que tal prenuncia,
se é vida,
se é morte,
se é sorte,
o que um santo apregoa
:: Marcelo Xuxu 18:21 [+] ::
...
:: Segunda-feira, Setembro 24, 2001 ::
Voltei hoje de São Paulo. Não gosto muito de avião: de Rio para Sampa, prefiro o ônibus, porque sempre dá pra colocar em dia as leituras (que, no meu caso, sempre são muitas). Desta vez, no entanto, foi diferente, porque eu me permiti fazer algo que estava protelando há tempos: comprar um discman. Munido de alguns CDs legais, peguei a estrada...

...e descobri que pela primeira vez em um ano e meio de viagens semanais para São Paulo, eu realmente consegui olhar pela janela e ver a paisagem. Trilha sonora: não, não tinha nada de calminho nem de meditativo. Era o bom e velho britpop anos 80, The Cure. Mas mesmo assim me acalmou. Vi o imenso verde que margeia a via Dutra, as vacas e os pássaros, um verdadeiro cinema coletivo (título de um excelente poema de Samuel Averbug, dos tempos do Verbo Encarnado, grupo de poesia de rua que formamos aqui no Rio na década de 80 - preciso achar este poema, vale a pena reproduzi-lo aqui.)

Valeu a pena, depois de ver pela janela da TV tanto terror e sofrimento, ver um pouco de paz e sossego pela janela do ônibus.
:: F?bio Fernandes 14:05 [+] ::
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:: Quarta-feira, Setembro 19, 2001 ::
Janela do satélite
Visão panorâmica, via satélite, do "Attack on America"

Uma janela na internet enxergando o local do espaço.

Vale a pena abrir essa janela da tela do seu Windows. ;-)

[ ]'s FerVil

:: Fernando Villela 16:21 [+] ::
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