GRUPO DE PESQUISA EM CIBERCIDADE - GPC
Reunião do GPC de 17 de setembro de 2007
Fernando Firmino da Silva apresentou na reunião do GPC o artigo “Tecnologias móveis na produção jornalística: do circuito alternativo ao mainstream” e seu projeto de pesquisa “Impacto das tecnologias móveis na produção jornalística – aspectos de mobilidade e desterritorialização”
1. Sinopse da exposição
No primeiro momento apresentou o artigo que discute a produção jornalística a partir do uso de tecnologias móveis digitais como celulares, câmeras digitais, notebooks, e outras ferramentas disponíveis em equipamentos portáteis. Discorrendo como esses dispositivos móveis, em complementariedade com as conexões sem fio, potencializam a produção jornalística na contemporaneidade, objetiva-se compreender os impactos que isto representa para o jornalismo e as funções jornalísticas diante de uma reconfiguração do meio com o surgimento do jornalismo participativo e a relação com o espaço urbano. A convergência multimidiática pode representar afetações na organização das empresas de comunicação, nas funções jornalísticas, nos conteúdos gerados e nos suportes de produção e disponibilização de notícias.
O projeto de pesquisa trata também das mesmas questões apontando que A sociedade contemporânea é marcada pela cultura da mobilidade e que a partir da década de 1990, sobretudo, as tecnologias móveis avançadas consolidam e se cria uma estrutura sem fio adequada para o desenvolvimento de um ambiente jornalístico caracterizado pela mobilidade e pelo não-lugar (AUGÉ, 1994) e pelo deslocamento sem centralidade que facilita a captação, apuração e edição de material jornalístico a distancia através de redes digitais. As empresas jornalísticas apropriam-se de tecnologias como celular, palmtops, câmeras digitais e conexões sem fio, visando ampliar a velocidade e agilidade do processo de produção da notícia. Aplicando os conceitos de mobilidade (LEMOS, 2004; MITCHELL, 2003; URRY, 2005) e desterritorialização (DELEUZE e GUATTARI, 1980), este estudo objetiva analisar o impacto das tecnologias móveis na produção jornalística, considerando que essas tecnologias favorecem a conexão permanente com o ciberespaço e redefinem a forma de produção da pauta, da reportagem e da edição que passa a ser mediada por computador em ambiente telemático.
Nessa perspectiva algumas questões se colocam: qual o impacto da mobilidade na produção jornalística? Em que grau as condições de mobilidade influenciam no processo de produção da notícia? Como o processo de desterritorialização provocado pela ampliação da mobilidade acomete a lógica de produção da pauta, da reportagem e da edição? Quais as alterações nas rotinas produtivas dos jornalistas com a adoção das tecnologias móveis? Neste sentido, realizar-se-á um Estudo de Caso sobre o Portal Estadão, selecionado devido as suas características de adoção do uso intensivo de tecnologias móveis no processo de produção jornalística, prevista pela política estratégica do grupo de comunicação que o mantém, o Grupo Estado de São Paulo.
O Estadão também foi pioneiro no país no chamado jornalismo participativo com a criação do projeto Fotorepórter, onde o leitor/cidadão participa do processo produtivo a partir do uso de tecnologias móveis como celular enviando fotos e vídeos. Tendo como base o método qualitativo, a pesquisa elegerá como técnicas a Observação Participante e a Entrevista que tomarão como pressupostos as hipóteses do Newsmaking e das Rotinas de Produção, aplicadas junto a uma amostra de um grupo de nove profissionais da equipe do Portal Estadão, divididos segundo as etapas do processo produtivo, compreendidas entre pauta, reportagem e edição. Para a realização da pesquisa será acompanhada a rotina de produção da equipe definida e a realização de entrevista considerando a hipótese de pesquisa apresentada: “A estrutura de produção jornalística móvel modifica as rotinas produtivas tradicionais repercutindo na profissão e na redefinição ou reagrupamentos de funções jornalísticas. Há também um rearranjo organizacional da empresa de comunicação para atender a um novo fluxo informacional e de trabalho de uma estrutura baseada em alta tecnologia digital e mobilidade”. Este estudo visa identificar como as tecnologias móveis são utilizadas no jornalismo e como respondem às questões relativas à qualidade do exercício jornalístico na era da mobilidade, caracterizado pela cibercultura e pelo ciberespaço.
2. Referências Bibliográficas
AUGÉ, Marc. Não-lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Rio de Janeiro: Bertrand, 1994
ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
BEIGUELMAN, Giselle. Entre hiatos e intervalos (a estética da transmissão no âmbito da cultura da mobilidade). IN: ARAÚJO, Denise Correa (org.). Imagem (ir) realidade: comunicação e cibermídia. Porto Alegre: Sulina, 2006
BRUNS, Axel. Gatewatching: collaborative online news production. New York-Washington: Peter Lang, 2005
DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mille plateaux. Capitalisme et Schizopherénie. Paris: Les Editions de Minuit, 1980
LEMOS, André. Cibercultura e mobilidade: a era da conexão. Revista eletrônica Razón y palabra. N.41. out./nov. 2004. Disponível em: acesso em: 14 mar. 2006
______________. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002
MAFFESOLI, Michel. Sobre o nomadismo: vagabundagens pós-modernas. S.Paulo: Record, 2001
MITCHELL, W.J. ME ++: the cyborg self and the networked city. MIT Press, Cambridge, Mass, 2003
SOUSA E SILVA, Adriana. Do ciber ao híbrido: tecnologias móveis como interfaces de espaços híbridos. IN: ARAÚJO, Denise Correa (org.). Imagem (ir) realidade: comunicação e cibermídia. Porto Alegre: Sulina, 2006.
Reunião do GPC de 10 de setembro de 2007
José Carlos Ribeiro apresentou um artigo sobre os "Reflexos sócio-interacionais do uso da comunicação móvel" e o seu projeto de pesquisa atual sobre "As tecnologias comunicacionais móveis contemporâneas e suas repercussões na configuração das micro-relações sociais urbanas".
1. Sinopse da exposição
Tendo surgido como serviço comercial em 1978, a telefonia celular móvel sofistica sua evolução tecnológica e amplia cada vez mais o seu leque de serviços agregados, indo desde a troca de mensagens escritas (short message service – SMS), passando pela audição de músicas (MP3 e rádios convencionais) e pelo registro de imagens (fotos digitais, vídeos), chegando até a possibilidade de localização (via sistema de posicionamento global – GPS) de seus usuários. No Brasil, segundo informações disponibilizadas no site da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), existiam em fevereiro de 2007 cerca de 101.186.709 acessos móveis em operação, o que demonstra a grande receptividade por parte da população em geral.
Como já observado por diversos autores (LÉVY, 1999; LEMOS, 2002; THOMPSON, 1998, dentre outros), a implementação de novos dispositivos técnicos propiciam condições necessárias para o estabelecimento de formas alternativas de experienciar as diversas situações sociais. Ou seja, em um esquema contínuo de influência, eles potencializam a exploração de caminhos não habituais de lidar com as demandas da vida cotidiana. Os efeitos decorrentes desse processo são constantemente colocados como objetos de estudo pelos analistas sociais. No momento presente, constatamos que um dos focos dessas análises centra-se na questão do possível “impacto” da utilização da comunicação móvel na vida diária (a ampliação da comunicação descentralizada, a multiplicação da capacidade de circulação de informações em curtos espaços de tempo, a rapidez nas rearticulações necessárias etc.).
A partir disto, algumas questões se mostram presentes: será que a adoção dessa tecnologia estaria promovendo alterações significativas no formato das micro-relações sociais e também na própria configuração dos espaços físicos onde tais relações costumam ser estabelecidas? Será que a “comunicação em movimento”, generalizada pelo uso da telefonia celular, traria elementos adicionais para a discussão sobre a configuração social verificada nas cidades informatizadas, nas grandes metrópolis ou nas denominadas cibercidades? Eis algumas de nossas preocupações reflexivas para esta pesquisa. Mais especificamente, nosso objetivo concentra-se na sistematização de alguns pontos que norteiam a gradativa complexificação das interações sociais, bem como na análise da superposição de ambiências presentes nas esferas pública e privada vivenciadas pelos usuários nestas situações.
Adotamos como hipótese inicial que existem, de fato, indícios que apontam mudanças nos arranjos psicossociais efetivados pelos indivíduos que utilizam de maneira cada vez mais freqüente os dispositivos comunicacionais móveis, ou seja, alterações no repertório de comportamentos sociais vivenciados nas situações cotidianas. Nesse sentido, a questão que nos interessa está centrada no exame de uma dimensão pouco explorada nos meios analíticos: a ocorrência do fenômeno como elemento dinamizador de mudanças estruturais nos formatos de interações sociais estabelecidas no universo das micro-relações.
2. Referências Bibliográfica
ADLER, R.; ROSENFELD, L.; PROCTOR II, R. Interplay: the process of interpersonal communication. Oxford University Press, 2004.
ARGYLE, M. A interação social: relações interpessoais e comportamento social. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
______. The social psychology of everyday life. London: Routledge, 1993.
ARGYLE, M.; FURNHAM, A.; GRAHAM, J. Social situations. Cambridge University Press, 1999.
AUGÉ, M. Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
______. A Galáxia da Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2003
CASTELLS, M., FERNANDEZ-ARDEVOL, QIU, J., SEY, A. Mobile communication and society: a global perspective. Cambridge: The MIT Press, 2007.
LEMOS. A. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002.
________. Ciber-Socialidade. Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea. On-line: 1998, acessado em 23 mar. 2007. Disponível em www.facom.ufba.br/pesq/ cyber/lemos/cibersoc.html
THOMPSON, J. B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vozes, 1998.
Conferência: Divisão Digital - Incluindo no Século XXI

O evento conta com a participação de Gilson Schwartz, coordenador da cidade do Conhecimento, da USP, de Sérgio Amadeu da Silveira, professor da Casper Líbero e um dos responsáveis pela discussão de software livre no Brasil, e de Nelson Pretto, diretor da Faculdade de Eduação da BAhia. A mesa será mediada pela profa. Maria Helena Bonilla, da Faced/UFBa.
No evento será discutido a inclusão e a exclusão ao acesso às novas tecnologias de comunicação e informação e às redes telemáticas nas sociedades brasileira e mundial. O objetivo é tratar dos temas mais importantes do que se vem chamando de "digital divide" e apontar perspectivas para a democratização do acesso aos computadores e à internet.
Esse debate busca analisar formas de inclusão social que utilize as tecnologias da cibercultura dentro de uma visão complexa (econômico, social, técnica e cognitiva). A conferência começa às 19 horas, no Teatro do ICBa, na Vitória. A entrada é gratuita.
Reunião do GPC de 27 de agosto de 2007
Macello Medeiros apresentou o sumário do projeto de pesquisa de doutorado e um artigo sobre A Desmassificação dos Meios de Comunicação na Sociedade Pós-Industrial (Sociedade da
Informação).
1. Sinopse da exposição
Resumo do artigo: Segundo Alvin Toffler (1981, p. 165 apud KUMAR, 2006, p.49): “A terceira onda, portanto, inicia uma nova era – a era da mídia desmassificada”. Com base nesta afirmação, este trabalho tem como objetivo analisar o papel dos meios de comunicação de massa na chamada Sociedade da Informação, buscando compreender como se daria esta “desmassificação da mídia”. Para isso utilizaremos como objeto de investigação alguns fenômenos recentes na comunicação como o mobisode “Parafina”, seriado produzido para celular e o caso da RCTV “emissoras de TV” da Venezuela, que apesar de perder sua concessão continuou a transmitir pela internet veiculando seus programas pelo YOUTUBE, site na internet onde é possível assistir vídeos postados pelos próprios usuários. Alguns pontos merecerão mais destaques neste trabalho como a questão do “controle” em diferentes aspectos e o ambiente sócio-econômico.
2. Referências Bibliográficas
JOHNSON, Steven. Cultura da Interface. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
KERCKHOVE. Derrick de. A Pele da Cultura. Trad. Luís Soares e Catarina Carvalho
Lisboa: Relógio D’ Água Editores, 1997.
KISCHINHEVSKY, Marcelo. O Rádio sem Onda: Convergência Digital e Novos Desafios
na Radiodifusão. Rio de Janeiro: E-Papers, 2007.
KUMAR, Krishan. Da Sociedade Pós-Industrial à Pös-Moderna. Rio de Janeiro, Jorge
Zahar Editora, 2006.
LEVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
ROBINS, Kevin; WEBSTER, Frank. The Long History of The Information Revolution. In
Times of Technoculture, London: Routledge, 1999.
SCHAFER, R. Murray. A Afinação do Mundo. São Paulo: Editora UNESP, 2001.
STRAUBHAAR, Joseph; LAROSE, Robert. Comunicação, Mídia e Tecnologia. São Paulo:
Thomson Learning Edições Ltda, 2004.
TOFFLER, Alvin. A Terceira Onda. São Paulo: Editora Record, 2001.
WINSTON, Brian. Media Technology and Society – A History: From the Telegraph to
the Internet. London, Routledge: 1998.